Bem Hallman começa por dizer que este tema "é importante" e permitiu aprender muito ao longo do caminho que esta investigação trilhou a partir do momento em que a Plataforma para a Protecção dos Denunciantes Anónimos em África (PPDAAF), com sede em Paris, entregou ao ICIJ os 715 mil documentos que detalham a vida empresarial de Isabel dos Santos e as ramificações suspeitas que atravessam o seu império de negócios.

No primeiro ponto, Hallman diz que gigantescas quantias de dinheiro continuam a sair dos países que mais precisam dele para paraísos fiscais, dando o exemplo do que foi conseguido com os "Panama Papers", "Paradise Papers" ou "Maurícias Leaks", que expuseram gente rica e poderosa, desde políticos, celebridades, criminosos e empresas de marcas conhecidas, como a Nike ou a Apple e os seus refúgios fiscais como as Ilhas Virgens Britânicas, Malta ou as Maurícias, onde "tudo isto continua a suceder".

"O ICIJ pôs a descoberto um universo de mais de 400 empresas ou subsidiárias de Isabel dos Santos ou do seu marido, Sindika Dokolo, em 41 países, incluindo 94 paraísos fiscais em Malta, Maurícias e Hong Kong", diz ainda neste primeiro ponto o chefe da equipa que investigou este que também podia ter sido baptizado como "Isabel Leaks" por ser a primeira vez que uma tamanha quantidade de documentos são reunidos sobre uma pessoa.

No segundo ponto para as suas cinco razões que sustentam a ideia de que os "Luanda Leaks" são de importância global, o ICIJ lembra que existem diversos especialistas, como contabilistas, que providenciam "serviços vitais" para os paraísos do branqueamento de capitais e outros locais que "parqueiam" dinheiro desviado de países, sendo que os organismos de regulação, em geral, ignoraram este facto.

E, mesmo nos países que levam este tema do branqueamento mais a sério, como os EUA, não dispõem de regulação federal que obrigue os contabilistas a rejeitar clientes ou a reportar clientes que encaixem num determinado quadro de suspeitas.

De seguida, já no 3º ponto das cinco razões, Bem Hallman recorda que os facilitadores destas actividades, como a corrupção, o peculato... que ajudam a deslocar e a esconder dinheiro ilícito, "estão a fazer sofrer pessoas reais", porque esse dinheiro está a ser tirado à qualidade dos hospitais, das escolas e do combate à pobreza.

"As autoridades angolanas congelaram recentemente mil milhões de bens de Isabel dos Santos, mas esta é apenas uma pequena parte da sua imensa fortuna, porque mais que isso foi deslocado para paraísos fiscais, casas e outros bens de luxo e em investimentos espalhados pelo mundo, sendo claro para Hallman que "esta riqueza vai ser muito mais difícil de recuperar por parte das autoridades angolanas", que continuam a gerir "um dos países mais pobres do mundo, com menor esperança de vida, com crianças a morrer à nascença a uma escala alarmante, com escolas e hospitais desesperantes ou nem sequer existem".

Em quarto lugar, nesta lista que este chefe de equipa do ICIJ pretende claramente usar como uma espécie de alerta geral para o facto de, apesar de muitos destes casos estarem a ser expostos, no geral, a pilhagem às riquezas dos países mais pobres do mundo continuarem com poucas ou nenhumas alterações substanciais, surge uma chamada de atenção para o facto de o Dubai estar a impor-se no mundo como o novo Panama, o mais importante paraíso fiscal de sempre.

Uma das mais importantes revelações deste "Luanda Leaks", segundo Bem Hallman, são as transferências de última hora de uma conta da Sonangol, no banco português EuroBic, para uma empresa de fachada no Dubai, envolvendo dezenas de milhões de dólares.

"O ICIJ e investigações independentes mostram que que o Dubai está a emergir rapidamente como o lugar para ir para as pessoas que querem esconder fortunas obtidas de forma ilícita", diz ainda este jornalista, quando se sabe que Isabel dos Santos acaba de transferir a sua morada fiscal para este Emirado sob a capa da sua nacionalidade russa.

Por fim, Hallman lembra que a "colaboração importa", porque durante mais de oito meses, mais de 120 jornalistas de 20 países perseguiram dicas a partir de documentos e conseguiram dar-lhes corpo.

Com isto, o chefe da equipa do ICIJ e antigo editor do departamento de projectos e investigação de The Huffington Post, sublinha que o que foi conseguido com este "Luanda Leaks" só foi possível graças à colaboração entre muitos em muitas geografias, embora em momento nenhum destes cinco pontos tenha feito referência à importância da PPLAAF, a sigla em inglês de Platform to Protect Whistleblowers in Africa, ou tão pouco o papel que, obrigatoriamente, foi desempenhado por quem obteve originalmente estes documentos, que, recorde-se, Sindika Dokolo já disse, como acusação, que foi um conhecido hacker português.