Ao iniciar a reportagem, nos arredores do Porto de Luanda, no distrito urbano da Ingombota, defronte ao Terminal Marítimo de Cargas Militares e Fuel, repartição da Sonangol, o Novo Jornal assistiu a uma manobra perigosa realizada por um automobilista que conduzia uma carrinha modelo Hilux.
No momento em que tentava contornar, em frente ao Terminal Militar, outro automobilista que dirigia uma viatura Starlet, apressado, decidiu fazer uma ultrapassagem e, nesse instante, aterrou sobre um buraco, colidindo com a viatura que efectuava a manobra perigosa. A discussão instalou-se e surgiram, quer da parte do lesado (o motorista do Hilux), como do infractor (o que pretendia fazer a ultrapassagem), alegações segundo as quais o infortúnio deveu-se ao buraco naquela via.
A responsabilidade foi imputada ao infractor, numa altura em que já muitos automobilistas aguardavam pela remoção da viatura do buraco para deixar fluir, minimamente, o trânsito. No intuito de perceber os problemas da via, a reportagem continuou a seguir o troço em direcção à Rotunda da Boa Vista. Augusto Leonel, de 31 anos, motorista de veículos pesados, ao ser questionado pelo NJ sobre as dificuldades em trabalhar no troço Porto-Rotunda, respondeu peremptório: "Trabalhar aqui significa partir os carros". Segundo o camionista, o estado do asfalto naquela via "acelera a degradação dos veículos e tem causado bastantes engarrafamentos".
No entroncamento, que liga o Porto de Luanda à empresa Intertransit e à linha férrea, o "caos é total", conforme contou um funcionário dos Caminhos-de-Ferro de Luanda (CFL). "Quando o comboio está a chegar e somos obrigados a impedir a passagem das viaturas, aí tudo se complica e, por vezes, já aconteceu, alguns carros deslizam até ao buraco [situado no centro do entroncamento] devido à inclinação", narrou o funcionário do CFL, sob anonimato. Em determinadas ocasiões, precisou o técnico, o surgimento do comboio apenas agrava o engarrafamento que existe quase sempre naquele espaço. A poeira no trajecto é outra «maka».
A reclamação é feita por Alba Laurinda Gabriel, secretária doSindicato dos Trabalhadores Organizados do Sector Petrolífero de Angola, situado na rua Kima Kienda, denominação oficial da referida via. "Por circularem constantemente nesta via, os camionistas estragam a estrada em pouco tempo e, enquanto não chover, sofremos com a poeira. Mas, quando chove, é outro problema também", acusou Alba Gabriel.
Confrontados com a acusação, diversos camionistas defenderam que "o governo deveria construir uma estrada com qualidade neste troço", porque a constante circulação de camiões exige uma via com "qualidade redobrada".
O movimento de "cargas pesada", que são retiradas dos terminais existentes nas imediações, foi apontado como motivo "mais do que suficiente" para a realização de "obras de profundidade" neste troço. A via foi reparada, parcialmente, há aproximadamente dois anos. Mas a intervenção apenas incidiu no troço entre a empresa Prefangol até à fábrica de fiação e tecidos de Luanda.
Os utentes da referida estrada e moradores ao redor disseram que o "trabalho foi bem feito". Isto pelo facto de, até ao momento, não se registar nenhum buraco, mesmo com as chuvas e com a passagem de "camiões super abastecidos".
"A empresa chinesa que reparou este lado trabalhou de verdade. Seria bom que a mesma empresa continuasse até à Rotunda e fizesse também a ligação até ao Porto de Luanda", frisou Marques António, camionista. Quando a via está engarrafada, os automobilistas levam uma hora, e por vezes duas, para realizar o trajecto Porto-Rotunda.
A escassos metros da esquadra policial da Boavista, o lixo também contribui para o engarrafamento que se regista diariamente. Para piorar a situação, a água que jorra dos chafarizes instalados ao redor daquele troço dificulta a circulação dos automobilistas.