Nessa luta pela sobrevivência, como o Novo Jornal foi verificar, depois de para isso ter sido chamado à atenção por vários moradores, estes caixotes de lixo estão permanentemente virados do avesso, com detritos espalhados pelas redondezas criando maus cheiros e incómodo na comunidade.

Não há nestas centralidades contentores sem serem disputados e alguns têm já "donos" que os garantem afastando com violência aqueles que deles se aproximam.

Quando é deitado comida fora, se não estiver estragada, é aproveitada por estes grupos de jovens, naquele que é um retrato de fome e pobreza que já claramente chegou às novas centralidades, apesar de não ser nada de novo um pouco por toda a cidade de Luanda.

Esta segunda-feira,22, o Novo Jornal percorreu as duas centralidades, Kilamba e KK 5.000, e constatou essa realidade que cresce, segundo alguns dos moradores contactados, dia após dias, com mais pessoas, incluindo mulheres com os seus filhos em busca de sustento no lixo dos outros.

Não há lixo arrumado nestas centralidades, porque também os jovens "catadores" os desarrumam à procura de objectos, como latas, plásticos e alumínio e ferro madeira para venda às empresas recicladoras.

"Aqui o lixo vale kota", disseram dois jovens com quem o Novo Jornal conversou.

Várias empregadas domésticas asseguram que já conhecem pelos nomes as pessoas que circundam os contentores à procura de comida.

Ao Novo Jornal revelarem que por vezes há luta entre eles para ver quem fica com a alimentação deitada fora.

Manuel Custódio "Mano Chaba", um dos jovens com quem o Novo Jornal conversou num dos quarteirões do Kilamba, disse, sorridente, que as empresas de recolha de lixo apenas levam o lixo que para eles não tem utilidade.

"O lixo aqui não tem trégua, todo o saco e caixa é revirado e a comida deitada fora é aproveitada", contou o jovem Manuel Custódio.

Alguns moradores disseram que muitos dos supostos mendigos e catadores de lixo, são marginais e chegam mesmo a cometer assaltos.

Segundo alguns moradores, engana-se quem pensa que os controlos dos contentores de lixo apenas são feitos de dia por essas pessoas.

"Existem quarteirões em que os contentores são revirados de noite", contou ao Novo Jornal Eduardo Diogo, um dos habitantes do Kilamba.

Entretanto, na centralidade do KK 5000, multiplicam-se as pequenas hortas no limite da centralidade dividendo a opinião dos moradores, uns defendendo a sua continuidade e outros não.

As pequenas hortas existentes no KK 5000, segundo alguns habitantes, não são feitas pelos moradores, mas por pessoas camponesas que vivem nos arredores da centralidade.

Segundo estes, é melhor que haja ocupação de espaços vazios por hortas no perímetro da centralidade, do que mata.

Uma fonte ligada à administração do Kilamba assegurou ao Novo Jornal que apesar de existirem pequenas hortas, no limite da centralidade, a administração do municipal está atenta a esse pormenor e tem tomado medidas quando há ilegalidade e transgressões administrativas.