As 05:00, vários homens e mulheres (adultos e jovens) dos 18 aos 35 anos, vindos de diferentes municípios, dirigem-se para o Kikolo em busca de uma oportunidade e começam a sair de lá por volta das 17:00.

No local, encontram-se donas de casa com um a quatro filhos, homens na mesma situação e vários jovens em busca do sustento diário para si e para as suas famílias.

Muitos destes indivíduos, na sua maioria mesmo, saem de casa sem dinheiro, percorrem longas distâncias a pé, passam fome e sede. Em alguns casos, pedem comida e água em outras pessoas à sua volta para aguentar o dia até alguém os chame...

Porém, com fome ou sem fome, os indivíduos que se sujeitam à sorte da "jorna", permanecem no local até ao fim do dia e se não forem chamados para trabalhar, a trajectória da sorte repete-se no dia seguinte.

Benjamim dos Santos de 22 anos, técnico médio em pedagogia, disse que está desempregado há dois anos, já se passou um mês desde que começou a frequentar o Shopping Kikolo, mas até ao momento não conseguiu trabalho, contou ao Novo Jornal.

"O país está mal, mas a fé é nossa", declara o pai de uma menina de quatro anos, que disse ainda que não tem preferência, qualquer trabalho lhe serve.

Já Viviana Francisco, de 24 anos, esposa e mãe de uma menina, disse que está nesta situação, tentando a "sorte", após se aperceber que no local estão a erguer novos estabelecimentos comerciais.

Enquanto muitos vão para lá à procura de um emprego, alguns funcionários das lojas aproveitam-se da situação para fazer dinheiro extra, pedindo "gasosa" para apresentá-los aos seus chefes e posteriormente serem contratados, como conta Isabel Bengues, de 23 anos.

"Muitos estão a ser contratados porque têm conhecidos e estão a dar gasosa", disse.

Alberto Domingos, de 19 anos, técnico médio em máquinas e motores, formado pelo Instituto Médio Industrial de Luanda (IMIL), contou ao Novo Jornal que "este ano não vai conseguir entrar numa faculdade por falta de dinheiro", por isso, desloca-se todos os dias ao Kikolo à procura de trabalho.

O único rapaz dos filhos da sua mãe sonha ser um engenheiro reconhecido em máquinas e motores, mas lamenta a falta de condições financeiras para custear os seus estudos, o que o obriga a sujeitar-se a esta penosa jorna.

O país tem cerca de 18 milhões de cidadãos em idade activa mas apenas três milhões estão empregados, de acordo com a direcção do Observatório Nacional do Emprego (ONE).