Nove pescadores angolanos e um chinês podem ter morrido no naufrágio de uma embarcação semi-industrial, por alegada falha técnica, há dez dias, no Sumbe, província do Kwanza Sul, disseram ao Novo Jornal, hoje, dois sobreviventes.

A dado momento de uma jornada de trabalho que parecia normal, durante a madrugada, a embarcação denominada "Mayombe 1" começou a naufragar na sequência de manobras efectuadas pelo mestre, um cidadão chinês que se estreava na tripulação.

É desta forma que Maurício Pedro e Valério Diniz, dois dos treze sobreviventes, descrevem a tragédia ocorrida nas imediações da comuna do Kikombo, onde está a base da empresa detentora da embarcação.

"Assustámos, de repente, quando o mestre mexeu num botão. A parte de cima do barco ficou para baixo, virou", exclama Maurício, assinalando que não havia ainda peixe a bordo.

Ele conta que os treze elementos que regressaram à terra, depois de duas horas em alto-mar, a dezenas de milhas, foram transportados por uma chata que se dedica à pesca artesanal.

"Alguns tinham coletes que permitem boiar, outros se agarraram numa espécie de bóia que faz parte da nossa embarcação", acrescenta Diniz, um morador da Cahota, município dos Navegantes, província de Benguela.

A maior parte dos trabalhadores do "Mayombe1" vive na Cahota, onde esta e outras embarcações do mesmo proprietário efectuam as descargas, na pescaria Fuay, igualmente propriedade de chineses.

"Foi difícil ficar mais de duas horas, bem distante da terra, a boiar, foi Deus que nos ajudou", contou a dupla, sublinhando que estão dois chineses entre os pescadores que regressaram, tendo sido submetidos a exames num hospital do Kwanza Sul.

Os pescadores Maurício Pedro e Valério Diniz recordaram que os ocupantes andaram aos gritos enquanto procuravam a salvação, com a palavra "socorro" a ecoar numa noite fria, até serem ouvidos pelos colegas da chata, o meio que os colocou em terra no mesmo dia.

O NJ sabe que a Capitania do Lobito, desprovida de meios para uma operação de resgate dos desaparecidos há mais de uma semana, está a investigar mediante declarações dos sobreviventes.

Não foi possível obter a versão da entidade empregadora.

Tentativa de silenciamento

Os sobreviventes abordados pelo NJ mantiveram um contacto com a Inspecção Geral do Trabalho (IGT), que prometeu um pronunciamento em relação aos procedimentos legais em matéria de compensações.

Foram igualmente à Sala do Cível, Administrativo e do Trabalho do Tribunal de Benguela, sempre à procura de apoio institucional para a solução de pendentes.

Cada um dos ocupantes recebeu 100 mil Kwanzas em jeito de indemnização. "Estamos descontentes, não sabemos se isso é justo", referem.

Eles acrescentam que o advogado dos chineses, em tom de "ameaça", exigiu sigilo a todos.

"Nos disse que se alguém queixasse perderia o emprego de vez", conta Maurício, ao revelar que, na Cahota, "os familiares dos desaparecidos dividiram a quantia de 500 mil Kwanzas".

Já Valério Diniz, desapontado, informa que "todos os familiares estão em óbito", aguardando apenas pelos corpos dos seus ente-queridos.

Unânimes, ambos salientam que esperavam da parte chinesa um informe às autoridades logo após o sucedido.