Com um crescimento que se vai traduzindo em desenvolvimento, o administrador municipal rasga novos horizontes que ligam o Lobito à Baía Farta, uma nova metrópole, que integra ainda Catumbela e Benguela.

Nos últimos cinco anos vários investimentos foram canalizados para esta região. Esta realidade está a facilitar a criação de empregos para os jovens?

A cidade de Benguela, de uma forma geral, e o Lobito, em particular, receberam nos últimos cinco anos um investimento considerável, onde despontam pelo menos três grandes projectos: a modernização e expansão do Porto do Lobito, a reabilitação, modernização e expansão dos Caminho-de-Ferro de Benguela e o início efectivo das obras e infraestruturas de apoio à Refinaria.

São obras de construção civil, quer de vias e docas, como no caso particular do porto seco, o porto minério e o porto de contentores, quer de terraplanagem e acessos, tudo dentro da Refinaria. Com isso, e como é normal, as oportunidades de emprego são maiores, principalmente para a camada mais jovem da população.

Esses empregos são preenchidos, maioritariamente, por angolanos ou por estrangeiros?

É misto. Há técnicos nacionais e estrangeiros, como no caso dos Caminhos- de-Ferro, onde temos equipas chinesas e angolanas, agora temos também alguma intervenção norte-americana, nomeadamente da General Electric. Na Refinaria, além de técnicos brasileiros, também temos americanos. Agora, é normal que estes projectos, de uma forma ou de outra, mexam com a sociedade nos mais diversos sectores: dos serviços, comércio, da hotelaria, restauração, assim como o próprio sector imobiliário, que foi impulsionado com o arranque efectivo dessas obras.

Já existe alguma data para o arranque da Refinaria?

Não há nenhuma data para já, mas tudo indica que dentro de três ou quatro anos vai arrancar. Nos últimos tempos tem-se falado recorrentemente na expansão deste investimento para a zona norte, nomeadamente, Canjala e Biópio.

Que investimentos de vulto poderão nascer nestas áreas?

Temos uma zona nobre, no Lobito, com vista de mar e que é uma das mais procuradas. E a norte, entre a cidade do Lobito e o Vale Guerra, com potencialidades turísticas e ecoturísticas muito fortes. Como a cidade, em si, está praticamente construída e há uma procura enorme por zona de costa temos de começar a ter as nossas atenções viradas para o norte. O governador Isaac dos Anjos está a tratar pessoalmente de outro projecto, com maiores dimensões, que é a centralidade do Lobito, que fica na estrada nacional Benguela/Huambo, numa área de seis mil hectares. Abrange uma parte do Lobito e mais seis ou sete mil quilómetros da Catumbela, tudo isso virá definir a nova zona das cidades do Lobito e da Catumbela e o início de uma nova metrópole, que é o que se quer, a integração entre o Lobito, Catumbela, Benguela e a Baía Farta.

Em que pé se encontra a ligação do Lobito para os restantes países que integram a região da SADC, o conhecido projecto «Corredor do Lobito»?

O «Corredor do Lobito» tem sido dinamizado nos últimos tempos pelo Governo, particularmente, pelo Ministério dos Transportes. Neste momento, a própria direcção do «Corredor do Lobito» já está instalada aqui e tem realizado, nos últimos tempos, algumas conferências internacionais com a participação dos países que irão integrar o projecto, que são a República Democrática do Congo (RDC) e a Zâmbia, para que estes países que terão benefícios directos com este corredor estarem congregados e redefinirem o arranque das obras.

É possível falar no sucesso do «Corredor do Lobito» sem Angola ter aderido, ainda, à Zona de Comércio Livre da SADC, uma vez que um dos grandes objectivos deste projecto é dinamizar o comércio entre esses países?

Sim. A dinamização do comércio na região é um deles, mas não se esgota nesse objectivo. Aliás, o Corredor do Lobito tem também como tarefa principal dar costa a países encravados, como a RDC e a Zâmbia. Para além das mercadorias normais, existe uma mercadoria específica que beneficia com a entrada em funcionamento do corredor Angola, que é o minério. Esses países são ricos em minérios e precisam de uma via mais viável para exportarem os seus minerais. Mas, claro que é verdade que precisamos dinamizar o nosso sector económico e industrial todo, de modo a tornar competitiva a nossa economia, de uma forma geral, e em particular dessa região, com o rasgar do Caminho-de- -Ferro de Benguela para que atinja patamares iguais aos países como a África do Sul.

O Lobito completa 100 anos a 2 de Setembro. Quais são as grandes actividades reservadas para esta altura?

Felizmente, conseguimos congregar uma série de actividades muito eclécticas que incentivam a camada juvenil, como o futebol, o basquetebol, a música e a literatura. Neste âmbito, está previsto o lançamento de dois livros com a história do Lobito. Um livro que fala sobre o surgimento da cidade, com mais de 40 páginas, e outro só com fotografias, com mais de 200 páginas.

Que grandes mudanças se registaram na cidade do Lobito desde o fim da guerra?

A nossa cidade tem uma espécie de responsabilidade nacional. Primeiro, porque começa a ser uma porta de entrada e de saída pela via do Porto. Segundo, e sem dúvida aquele que na minha óptica pode ser considerado um dos grandes avanços depois da guerra, foi solucionar a questão da água. Ou seja, o projecto de águas de Benguela, de facto, veio colmatar os grandes problemas que tínhamos. Como sabe, a água é vida e esse problema foi muito bem encaminhado aqui na província de Benguela, em particular, aqui no litoral. Para mim, esse foi dos grandes avanços que conhecemos desde o término da guerra. Agora, a construção de estruturas de carácter social, vias e também a limpeza urbana é visível para quem vem visitar Benguela e a cidade do Lobito. Neste capítulo estamos bem.

Os Flamingos estão de regresso à cidade. Será que se aperceberam do centenário da cidade?

(Risos) Regressaram porque a administração começou com o projecto de recuperação dos Muangais, com a retirada de todo lixo que havia no local, a proibição da pesca e da invasão humana nos Muangais. Havia muita gente que entrava dentro dos Muangais e isso, naturalmente, criava um ruído dentro do habitat natural dos Flamingos, das garças e dos pelicanos. Hoje em dia, temos um cartão-de-visita e agora temos de começar a criar os guias turísticos, as pontes de observação de aves com binóculos, sanitários públicos, etc. Temos um projecto bem definido para tornar os Muangais do Lobito num capital económico.

Temos conhecimento da situação de populares que invadiram a zona adjacente à Refinaria do Lobito, composta maioritariamente por ex-militares…

Não. À volta da Refinaria nunca houve ex-militares. Existe sim uma dependência das Forças Armadas Angolanas (FAA) e um quartel avançado para treinamento. É um assunto que está a ser tratado ao nível das estruturas afins. Agora, sempre houve tentativas por parte da população de ocupar terrenos à volta da Refinaria. Em todo o caso, o que se passa é que os terrenos à volta da Refinaria, boa parte deles, pertencem às cimenteiras, nomeadamente à Secil e Cimentos do Lobito, assim como à Cemi & Fortes, que é uma fábrica de cimentos que está aqui no município da Catumbela, e a Fábrica que estará instalada naquele local, que é a Palanca Sementes. O que posso dizer é que toda essa zona alta do Lobito, nomeadamente, entre a cidade do Lobito e o norte, tem um filão rico em calcário, que, como sabe, é uma das principais matérias- -primas para produzir cimento. Além de calcário, também tem um filão de gesso. Como o nosso país precisa de cimento para reconstruir o país, temos de ter uma visão estratégica em relação a essa matéria- -prima tão necessária à produção de cimento.

E as populações da Feira Popular que vivem em condições altamente precárias?

Esse é um outro dossier sensível da nossa cidade. Como sabe, a Feira é propriedade privada, mas, tendo em conta a responsabilidade social das entidades, vamos acabar por encontrar uma solução pacífica para este problema que satisfaça as partes.

Está à frente da administração do Lobito, desde 2005. Por si já passaram três governadores. Qual é a sua relação tanto com Dumilde das Chagas Rangel, como com Armando da Cruz Neto e, agora, Isaac Maria dos Anjos?

Eu tenho um princípio que é alienável, que é uma fidelidade aos meus superiores hierárquicos. Faço simplesmente aquilo que me está acometido e cumpro com muito rigor a minha tarefa, e de forma incansável. Tento sempre fazer a minha parte.

Fala-se muito da sua saída de administrador do Lobito para vice-governador. Confirma?

(Risos) Já se falou muito sobre esse assunto, mas não tenho nenhum dado a propósito. Eu estou muito tranquilo em relação a estas questões, um administrador de um município tão complexo como é o Lobito tem que estar preparado e ter, acima de tudo, equilíbrio. Nenhuma destas questões tem fundamento.

Sabe que não é insubstituível?

Com certeza absoluta.

Armando da Cruz Neto tem sido muito elogiado por alguns sectores da sociedade benguelense pelo bom trabalho que desempenhou. Partilha essa opinião?

Com certeza absoluta. Eu sou uma pessoa que compreende bem os contextos, pois para mim a governação depende muito deles. Cada governador governou num determinado contexto. Na minha opinião cada um deles, no seu contexto, na sua época, governou convenientemente, portanto, na minha época, cada um deles deu o seu melhor para esta província.