O negócio de cobrar uma "taxa de circulação" aos taxistas e passageiros já virou costume em diversos pontos da cidade, conforme constatou a equipa de reportagem do Novo Jornal Online nas paragens do São Paulo, Kikolo e Golfo-2, de onde nos chegam muitas denúncias.

O fenómeno torna-se imperceptível à primeira vista, sobressaindo apenas um corre-corre, aqui e ali, no meio da estrada. É preciso observar as movimentações mais de perto para compreender a dinâmica: O vaivém acelerado permite controlar o lugar onde os taxistas estacionam e avançar para a cobrança.

"Somos obrigados a pagar para evitar o pior", lamenta Henrique Adriano, taxista há cinco anos, com várias rotas no percurso, entre elas a trajectória Aeroporto-São Paulo. Mas seja qual for a direcção, paga sempre 100 kwanzas por paragem, contrapartida para poder descarregar e carregar passageiros.

"No mês de Janeiro houve um dia em que o meu cobrador não quis pagar os 100 kwanzas. De repente, os marginais, que dizem ser os fiscais das paragens, pegaram em garrafas e lançaram ao carro, até partirem o vidro de trás. Essa foi a segunda vez que partiram o vidro do meu carro", conta o taxista, de 27 anos, que ainda aguarda resposta da queixa apresentada na Polícia.

O episódio expõe o elo mais fraco desta história: Os cobradores são os que mais sofrem represálias quando mostram renitência em pagar o dinheiro. A experiência de Marcos Pedro, cobrador há um ano, confirma a vulnerabilidade.

"Quando comecei como cobrador, não sabia que tinha de pagar o terreno. Por isso no momento em que os moços me pediram 150 kwanzas neguei. Para mim não fazia sentido, mas, de repente, eles puxaram o dinheiro das minhas mãos e meteram-se em fuga", recorda Marcos, que ainda teve de arcar com o prejuízo.

"Seguimos os marginais mas já não conseguimos localizá-los. Pior foi que quando contámos ao "boss" ele disse que tinhamos de pagar o dinheiro roubado".

"O terreno no Kikolo tem dono"

No Kikolo o cenário agrava-se, porque nem os passageiros são poupados, conforme conta a vendedora Ivanete de Mbuidi, que chegou a pagar 500 kwanzas por ter pousado as suas mercadorias no chão.

"Estava na paragem à espera do taxi, e como a mercadoria pesava coloquei-a no chão. Afinal os moços estavam a controlar-me e assim que pousei a mercadoria, apareceram dois jovens. Disseram-me que tinha de pagar porque o terreno lhes pertencia, caso contrário levariam as coisas. Preferi pagar", conta, apelando à intervenção das autoridades.

"Muitos de nós já estamos acostumados com isso, não é mais novidade para nós, mas o que nos deixa preocupados é que muitas vezes a Polícia está a ver, mas não consegue resolver. Na semana passada, um dos meus colegas foi agredido e o regulador de trânsito, bem próximo da confusão, não fez nada para parar aquela briga," lamenta o taxista Victor da Silva, de 42 anos.

Indiferente às acusações de abusos e de cobranças indevidas, Maurício Teles, mais conhecido por "Bate Bem", assume ser um dos "fiscais", com paragem no Kikolo, ponto onde operam cerca de 20 elementos, com uma facturação colectiva de 4.000 kwanzas diários.

"Nós limpamos aqui aos sábados e não temos visto taxistas a limpar. Então decidimos passar a cobrar pelo serviço. Quem não quer pagar deve ser punido", defende Maurício.

A convicção reforça o sentido das palavras Ricardo Dias, para quem fazer serviço de táxi nos últimos tempos é um acto de coragem. "Se não fores corajoso vais desistir", desabafa, garantindo que a associação está a par da situação. "É sempre a mesma coisa: Amanhã, amanhã, e o assunto vai morrendo".