Mais de 100 declarantes afectos à IURD Angola foram ouvidos pelo tribunal durante a fase de discussão e julgamento para o apuramento da verdade sobre as acusações que pendem sobre os bispos e pastores angolanos e brasileiros.

O julgamento do conhecido "caso IURD" arrancou no dia 18 de Novembro do ano passado e os arguidos são acusados dos crimes de associação criminosa e branqueamento de capitais.

Durante os seus interrogatórios, os acusados, Honorilton Goncalves, António Miguel Ferraz, Belo Kifua Miguel e Fernandes Henriques Teixeira, negaram até todas as acusações que pesam sobre si e a Igreja Universal do Reino de Deus.

O advogado da parte queixosa, David Mendes, que representa a ala dos pastores dissidentes da IURD (conhecida como ala angolana), mostrou-se a 26 de Janeiro último confiante na condenação dos arguidos.

Segundo David Mendes, nas alegações finais vai fazer um resumo daquilo que são as suas convicções e daquilo que espera.

"Está mais que claro que os crimes de que os réus vêm acusados estão provados", afirmou.

"Não vemos outro caminho que não seja o da condenação", disse o causídico, em declarações aos jornalistas.

Durante as sessões de julgamento, o Ministério Público (MP) acusou a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) de ser uma associação criminosa de cariz internacional e, entre várias outras acusações, afirmou também que os seus líderes andam a enganar os fiéis.

A afirmação não foi bem acolhida pela defesa dos quatro réus em julgamento, que considerou que o MP não respeita as regras processais penais.

O ex-líder espiritual da IURD em Angola, Honorilton Gonçalves, negou todas as acusações que pesam sobre si e a igreja, salientando ao tribunal que durante o seu mandato não teve nenhum registo de procedimento cirúrgico (vasectomia) por parte de qualquer pastor.

Honorilton Gonçalves assegurou que orientou os pastores a apenas receber ofertas em dinheiro e não em bens materiais e que os pastores não tinham nenhuma influência na decisão das ofertas por parte dos fiéis.

Fernando Teixeira, ex-director da TV Record Angola, negou ter usado a estação televisiva para transferir dinheiro para fora do País, crime de que está acusado.

António Miguel Ferraz e Belo Kifua Miguel, também negaram as acusações que pesam sobre si e salientaram que nunca foram criminosos.

Valente Bezerra Luís, antigo vice-presidente do conselho de direcção da Igreja Universal do Reino de Deus no País, actual líder da ala angolana, disse em tribunal que este julgamento só agora aconteceu por causa do programa de combate à corrupção levado a cabo pelo Presidente João Lourenço, acusando o Executivo de José Eduardo dos Santos (JES) de proteger os dirigentes da IURD. Garantiu que vários pastores e bispos apresentaram queixas e denuncias às autoridades, mas não foram levados a sério.

Sobre a situação da prática de vasectomia na igreja, o bispo da ala angolana disse que os pastores que a faziam não eram obrigados.

Ao tribunal, o bispo salientou que quando estava na direcção da igreja teve conhecimento que muitos pastores angolanos e brasileiros levavam para o exterior, de forma dissimulada, avultadas somas em divisas.

As últimas sessões de julgamento ficaram marcadas pela ausência do bispo brasileiro, Honorilton Goncalves, que se encontra no Brasil onde passou a quadra festiva, mas segundo fonte da IURD ainda não regressou ao País por motivos de saúde.

São arguidos neste julgamento os bispos e pastores Honorilton Gonçalves, António Miguel Ferraz, Belo Kifua e Fernando Henriques Teixeira, todos acusados dos crimes de associação de malfeitores, evasão de divisas, branqueamento de capitais e violência doméstica.