A razão para este tráfico intenso mas feito por muitos e em pequenas quantidades, como confirmou ao Novo Jornal Online um residente na província do Cunene depois de a imprensa namibiana ter divulgado esta situação, acontece porque "é muito lucrativo e é feito sem risco de maior".

Este intenso tráfico em pequena escala acontece porque o gasóleo e a gasolina, que custam cerca de 12 dólares namibianos (cerca de um dólar norte-americano), custam quase metade no caso do gasóleo e menos de dois terços em Angola, onde o litro de gasolina custa 160 kwanzas (0,78 USD) e o gasóleo 130 kwanzas.

Como relata o jornal The Namibian, dezenas de cidadãos namibianos e angolanos fazem várias vezes ao dia o percurso Santa Clara-Oshikango para comprar bidons (vasilhame) de 25 litros de combustível para encher depósitos de maior dimensão em pequenos quintais e arrecadações onde os habitantes locais e, principalmente, taxistas namibianos atestam os seus depósitos por valores substancialmente inferiores aos praticados nos postos de abastecimento oficiais.

O jornal namibiano da mesmo o exempo de dois jovens na casa dos 20 anos que alugaram dois quartos em Oshikango, a antiga vila namibiana que hoje integra a cidade de Helao Nafidi, usando um para dormir e o outro como arrecadação de combustível angolano para venda local, de forma ilegal mas claramente com a colaboração das autoridades locais, provavelmente à custa de subornos.

Isto, porque, como descreveu ao Novo Jornal Online um conhecedor da região e utilizador frequente da fronteira de Santa Clara por visitar como técnico várias explorações agrícolas do outro lado da fronteira, "há miúdos que passam a fronteira várias vezes ao dia com pequenos veículos sem problema enquanto a nós estão sempre a causar problemas".

O mesmo sustenta a reportagem do The Namibian, que nota ainda que não seria possível, sem o conluio das polícias de fronteira de um e do outro lado, este tipo de carga atravessar tão facilmente a linha divisória entre os dois países.

Um dos métodos utilizados é encher os depósitos de combustível em Angola de veículos como táxis e despeja-los do outro lado várias vezes ao dia, o que pode corresponder a muitos milhares de litros de combustível adquirido com subsídios do Estado angolano a serem vendidos diariamente e livres de impostos aos consumidores namibianos.

Esta situação é, naturalmente, facilitada pelo acordo de supressão de vistos que existe entre a Namíbia e Angola, bastando aos cidadãos de um e do outro lado da fronteira apresentar às autoridades fronteiriças um documento de identificação válido.

A polícia namibiana já tornou público que está ao corrente deste negócio ilegal e sublinha, para além do tráfico, a questão da segurança, porque muitas das pessoas envolvidas armazenam grandes quantidades de combustíveis nas suas habitações ou nas imediações destas.

O Novo Jornal Online tentou, até ao momento sem sucesso, obter um comentário das autoridades angolanas.