O também director executivo da Fundação Kissama, que aconselha a população a não comer moluscos como polvo, quitetas, lagosta ou kingole, disse ao Novo Jornal que os resultados das várias amostras recolhidas e enviadas para laboratório apontam para um fenómeno conhecido por eutrofização, ou seja, excesso de nutrientes, minerais e orgânicos, que originam um excesso de vida vegetal que dificulta e aniquila a vida animal por falta de oxigénio.

Vladimir Russo lembra que no período nocturno era possível ver uma luz na orla marítima, sendo que "a decomposição das algas bioluminescentes provoca aquele cheiro e a substância viscosa e a luminescência confirmam a espécie".

Por outro lado, diz o ambientalista, poderá haver outros elementos que fizeram com que esse afloramento de algas atingisse uma maior proporção. Para o especialista em educação ambiental, é necessário analisar dois ou três aspectos importantes: "O primeiro é que estamos no processo de transição do cacimbo para o Verão e com isso há mudanças de temperatura e basta olharmos para últimas duas ou três semanas. As temperaturas mais altas demoraram a chegar, e aqui estou a referir-me sobretudo a Luanda, e particularmente aos períodos da noite e do início da manhã, em que as temperaturas eram mais baixas do que é habitual nesta altura de Setembro".

Por outro lado, continua Vladimir Russo, "começa a haver algumas chuvas a montante e essas chuvas alimentam os rios e as valas de drenagem que carregam consigo poluentes que estiveram estacionários durante todo o tempo do cacimbo. Esses poluentes podem, sim, acelerar o processo e criar aquilo que nós vimos nas imagens e vídeos sobre as praias".

Segundo o ambientalista, que aconselha a população a não ir a banhos, o fósforo é normalmente utilizado em fertilizantes, "e havendo fertilizantes no solo, e com as escorrências pluviais, podem-se acumular e depois ser levados para o mar. Há fertilizantes muito ricos em fósforo".

Também os esgotos domésticos e industriais "podem introduzir grandes quantidades de nutrientes nos sistemas aquáticos, no mar", refere, acrescentando que os nutrientes em excesso promovem a proliferação destas algas aquáticas, e, também, a sua rápida decomposição, o que tem consequências negativas, pois "faz com que haja uma diminuição do oxigénio na água e isso pode resultar na morte de várias espécies aquáticas, o que (ainda) não foi visível nesta altura".

Vladimir Russo afirma que "também as emissões industriais podem resultar na libertação de fósforo e nitrogénio e esses podem acabar na água, "mas não será o caso, pois não houve registo de chuva ácida".

O aquecimento global é outro factor, aponta o ambientalista, "pois a alteração das temperaturas, particularmente a amplitude térmica que aconteceu nestas últimas três semanas, não é habitual".