O projecto previa um sistema de transportes que nunca foi posto em prática. Os vendedores do Roque Santeiro, que, em 2010, recusavam a transferência para o mercado do Panguila, antecipavam já o fracasso do empreendimento.
Segundo o administrador do mercado, Paulo António Mateus, "as ausências dos clientes passam pelas condições da via, pois na época em que este mercado foi aberto, a estrada principal não estava em condições de circulação, mas havia 13 mil vendedores que poucos meses depois foram abandonando o recinto alegando falta de clientes, e transferindo-se para outros mercados".
A administração, que continua a apelar à população ambulante para aderir ao recinto de vendas, refere que o mercado tem todas as condições para receber vendedores e clientes.
Com 5.376 bancadas, 200 armazéns, 144 lojas, 36 câmaras frigoríficas e 48 restaurantes, oito quiosques, 13 chafarizes, 16 casas de banho, um posto médico e uma área administrativa, o mercado está a 18 quilómetros do município de Cacuaco, província Luanda.
A maior parte dos vendedores do mercado foram transferidos do antigo mercado Roque Santeiro, no Sambizanga, em Luanda, em Setembro de 2010.
O Novo Jornal Online constatou no local que vários espaços e bancadas se encontram vazios, estando a maior parte dos vendedores concentrado logo à entrada do mercado, porque, segundo eles, "é a única forma de encontrar clientes".
Margarida António, vendedora há mais de seis anos, disse ao Novo Jornal Online que a concorrência dos mercados do Kicolo, Kwanzas e outros tem prejudicado as vendas no Panguila, pois muitas pessoas preferem aqueles espaços por causa da distância.
"Na bancada quase não vendemos, os clientes não entram. Este mercado é muito grande para o número de vendedoras, por isso preferimos vender na entrada do recinto", disse.
"Muitos dos que vendiam aqui preferiram partir para outros mercados de Luanda, por causa da distância", argumentou.
"O mercado do Panguila oferece todas as condições para se realizar um bom comércio com a maior segurança de quem o visita. É uma pena as pessoas não valorizarem este investimento do Governo e prefiram vender nas ruas", disse Miguel André, também vendedor.
Josefina Adão, mãe dos jingongos (gémeos), como é carinhosamente chamada pelas colegas, contou ao Novo jornal Online que a falta de clientes faz com que ela preste serviço de limpeza no mercado e só depois e só depois se dedique à venda.
"Saio muito tarde do mercado para ver se vendo qualquer coisa, uma vez que é doloroso chegar a casa sem levar nada para a família", lamentou.
Administração preocupada com surgimentos de mercados informais na zona
O administrador do mercado do Panguila, Paulo António Mateus, disse ao Novo Jornal Online que está bastante preocupado com o surgimento de novos locais de venda perto do mercado.
"Estamos muito preocupados com o surgimento de várias praças no interior do bairro que estão a impedir que muitos clientes cheguem ao mercado do Panguila", disse, acrescentando: "Infelizmente é o que está a acontecer. Temos sensibilizado as pessoas no sentido de não venderem nesses locais e virem vender no mercado do Panguila que foi projectado com esse fim", afirmou.
O responsável reconheceu que, muitas vezes, há vendedores que não têm tido o rendimento esperado, mas adiantou que a ocupação do espaço por parte destes para realizar qualquer actividade comercial carece de pagamento de uma taxa diária de 100 kwanzas.
Paulo António Mateus afiançou que o mercado tem apenas 460 vendedores, contra os 14 mil projectados, rende mensalmente dois milhões e 500 mil kwanzas, mas lamenta que o mercado tenha todas as condições para o comércio que, segundo ele, estão a ser desperdiçadas.
"A verdade é que Luanda tem muitos mercados e isso faz com que o nosso mercado fique sem clientes. O mercado do Panguila é o maior mercado da província do Bengo e do país, mas infelizmente não está a ser valorizado", lamentou.
"Quem quiser vender no Panguila, que venha, não há burocracia. Infelizmente passamos meses sem receber pedidos para vender, pois alegam que o negócio aqui não anda", explicou.
O mercado do Panguila ocupa uma área de 250 mil metros quadrados, foi criado pelo Governo Provincial de Luanda para albergar os vendedores que saíram do antigo mercado Roque Santeiro, no município do Sambizanga, e ambulantes espalhados pela capital do país, mas devido à nova divisão administrativa, em Março de 2012, o bairro do Panguila passou a pertencer o município do Dande, província do Bengo.