Creio, entretanto, que antes de prosseguir vale a pena clarificar o que é o CBDC e como se diferencia das cryptocurencies de que falei inicialmente. CBDC é definido como um passivo digital de um banco central, que é amplamente disponível ao público, sustentada pelo banco central. Enquanto as criptomoedas "Criptocurrency ou cripto") são moedas digitais, como o Bitcoin, usado como método de pagamento alternativo ou investimento especulativo. As criptomoedas recebem esse nome devido às técnicas criptográficas que permitem que as pessoas as gastem com segurança, sem a necessidade de um Banco Central. Trata-se, por conseguinte, de uma temática muito actual, pelo que, me pareceu oportuno abordar neste artigo as vantagens e as desvantagens do uso do CBDC como meio exclusivo de pagamento, de unidade de valor e de entesouramento, não tanto na linha das criptomoedas, por, na minha óptica, carecerem do controlo da autoridade monetária, por conseguinte, especulativos. Qual seria o seu impacto em economias periféricas, como a angolana, onde a inclusão bancária, está, ainda, muito aquém do mínimo desejável?
Está disponível no Site do FED um Workpaper "Money and Payment: The US Dollar in Digital Age" traduzindo o título do Paper "Dinheiro e Pagamento: O dólar dos Estados Unidos na era digital", que aborda circunstancialmente aspectos da moeda digital na perspectiva do FED, em que é dada a oportunidade ao público americano pronunciar-se sobre a temática da moeda digital. Entre as várias assunções no Paper, os especialistas do FED assumem que no seguimento dos estudos que tem realizado, o CBDC deverá ser complementar, em vez de substituir, as formas actuais de dinheiro e os métodos de fornecimento de recursos financeiros, o que confirma a minha asserção de que o fim de circulação das cédulas do dólar, veiculada no vídeo, o que seria substituição, não é, de facto, verdadeira.
Mark Carney, ex-governador do Banco do Canada e posteriormente do Banco da Inglaterra, no seu livro "Value and Values", sugeriu a entrada urgente em cena dos bancos centrais, tutelando a emergência do dinheiro digital, pois na sua óptica era a tendência irreversível dos sistemas de pagamento, tarde ou cedo, as moedas digitais seriam a alternativa. Adicionalmente, apesar de as transacções digitais serem anónimos, existem riscos de segurança, que as autoridades monetárias devem intervir em defesa do interesse público. Neste sentido me parece que a China está um pouco adiantado, por já estarem em uso eYuan (e-CNY), exclusivo para os cidadãos chineses residentes nos territórios chineses. Há estudos avançados de outros bancos centrais sobre o CBDC, entre eles os EUA, Suécia, Inglaterra, o Banco Central Europeu, etc.
Porém, a par do facto de a notícia do vídeo que fiz referência ser manipulada, não sei para que fins. As vantagens invocadas da moeda digital, são, no meu entender, muito positivas, a retirada de circulação das cédulas de papel nas economias, o que me fez acreditar que este dia, não está muito longe de acontecer nas economias desenvolvidas. Na verdade, a maior parte dos países desenvolvidos, já muito pouco se faz uso de pagamento em numerário ou dinheiro em espécie, as pessoas usam cartões de crédito e pagamentos em terminais multi-caixa. A eliminação da utilização de numerários, ou dinheiro em espécie, iria reduzir significativamente as actividades criminosas, como o tráfico de drogas, a corrupção, a fuga ao fisco e evasão fiscal, que as transacções ocorrem em numerário ou dinheiro em espécie. Para além de que fazer dinheiro custa dinheiro. As vantagens são várias, por exemplo, a tracebilidade das transacções digitais é efectiva, permite uma clara identificação das partes envolvidas nas transacções, o que facilita a fiscalização, dissuadindo, actos irregulares, como o que acontece com as transacções em numerário. Os pagamentos de comissões, das luvas (kikbacks), muito frequentes em operações de corrupção, não ocorrem por transferência bancária, antes por entrega de valores em numerário, é citado no vídeo as avultadas somas de dinheiro encontrados na posse de um ex-deputado brasileiro. Os comerciantes, mesmo na nossa realidade, recusam-se, por vezes, a aceitar pagamentos em terminais multicaixa, preferindo pagamentos em numerário, pois dessa forma não vai emitir a factura ou o recibo, consequentemente, a sonegação do imposto devido, na realidade angolana, quer o Imposto Sobre o Valor Acrescentado (IVA), quer, depois o Imposto Industrial (II). Por conseguinte, a substituição de cédulas no sistema de pagamento pela moeda digital, seria, de valiosa utilidade, para as economias.
Contudo, não tenho ilusão que a par das vantagens, há uma série de riscos e desvantagens. A primeira desvantagem, é o facto de ainda haver muitas pessoas excluídas do sistema bancário. Nos EUA, a maior economia do Mundo, fala-se de 7% da população que não está bancarizada, com os quais não se pode falar de moeda digital, pois nem conta bancária possuem. Em Angola o inquérito do Instituto de Estatística de Angola (INE) refere uma bancarização na ordem dos 32%. Adicionalmente, segundo estatísticas oficiais de emprego, o mercado informal absorve cerca de 65% da mão-de-obra activa, portanto, maioritariamente excluídos do sistema bancário. A outra desvantagem é o crime cibernético, toda a actividade da moeda digital ocorre no sistema de tecnologias de informação (TICs), que como se sabe enfrenta ataques cibernéticos constantes. Associado a este risco está o facto, de que, é a tracebilidade das transacções expõe demasiadamente a privacidade das pessoas.

Diz um adágio popular que "não há fumo sem chama", se por um lado, o vídeo veicula uma informação que não é verdadeira, por outro lado, vem alertar sobre os mecanismos que podem reduzir os problemas associados a circulação de cédulas monetárias, facilmente falsificáveis e usadas para fins maléficos, indutores de inúmeras contrariedades ao desenvolvimento equilibrado das economias. A digitalização da actividade bancária, segundo o Relatório da 17ª Edição do estudo sobre a banca da Deloitte, refere elevados níveis de crescimento do volume de transacções digitais, proporcionando oportunidades de maior inclusão bancária, propiciando, então, a emergência, um dia a emergência progressiva do CBDC, também em Angola. Entretanto, quanto a mim, vou continuar a aguardar possa substanciar o racional das cryptocurencies, até lá, estou fora.