O Executivo de João Lourenço precisa de ter uma estratégia nacional de pensamento e acção diplomática quando fala das nossas comunidades no exterior. Uma estratégia de inclusão, de integração, de coordenação e articulação, de educação e cidadania, de comunicação e de participação cívica. É preciso reinventar o espaço de abordagem política e diplomática com as nossas comunidades no exterior, e isso só se faz com estratégia, com instituições fortes, legítimas, preparadas e capacitadas para tal, com o sentido de Estado e que olhem para as pessoas como o centro da sua actuação. Este episódio foi humilhante e indigno para o MIREX, para o ministro Teté António, para o secretário de Estado para a Cooperação Internacional e Comunidades Angolanas, Domingos Vieira Lopes, os embaixadores e cônsules dos mais de 20 países de onde vieram os 150 membros das delegações. Daí a circular assinada pelo secretário de Estado Domingos Vieira Lopes, na qual o MIREX informa que "não está engajado" na Conferência Nacional com a Comunidade Angolana na Diáspora e orienta os seus órgãos externos "a manter a mesma postura de não-engajamento".

A MONAAR é uma associação que existe desde Outubro de 2018 e que, no período 2020-2023, andou a organizar conferências no exterior com um tema central: "Os feitos do Executivo angolano liderado pelo Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço". Onde é que uma associação praticamente desconhecida em Angola vai arranjar dinheiro para custear despesas com transporte, alojamento e alimentação de 120 delegados e mais 30 funcionários diplomáticos, um total de 150 delegados provenientes de 22 países? Mais 90 delegados das 18 províncias do País? Sendo um evento que decorreu durante três dias numa unidade hoteleira de 5 Estrelas em Luanda, para além de um roteiro interprovincial pelo País por um período de seis dias e estando marcado o dia 14 de Abril como data para o regresso das delegações aos seus países de origem, só uma estrutura muito forte e poderosa poderia sustentar e pagar uma operação que não deve ter ficado barato aos contribuintes. Na verdade, quem paga esta factura são os contribuintes e que também podem exigir uma apresentação de contas. Evaristo Vany é apenas uma figura decorativa na liderança da MONAAR, sendo que, na realidade, quem manda na associação é Auxilio Jacob e Norberto Garcia. Auxilio Jacob terá sido o elemento que surgiu perante as associações na Diáspora e missões diplomáticas angolanas como mandatado para falar/apresentar o projecto, obviamente disse-lhe que era a entidade palaciana sediada na Cidade Alta que o orientava e o protege. Tanto é que cada missão diplomática enviou um ou mais funcionários para acompanhar as suas respectivas delegações.

O NJ sabe que algumas missões consulares solicitaram informações ao MIREX sobre a organização deste evento e a instituição disse: "Não ter informação sobre a organização do evento, nem sequer conhecer ou ter sido contactada pelos organizadores do mesmo". O que temos aqui é uma falta de comunicação, coordenação e articulação tremenda, em que o MIREX foi literalmente "ignorado com sucesso" pela MONAAR e os entes palacianos que a sustentam. Foi notória a ausência do ministro Teté António (o programa da organização apresentava-lhe como um dos prelectores) e dos seus adjuntos, de altos responsáveis do seu pelouro, bem como dos embaixadores ou cônsules dos países de origem dos delegados da diáspora. Norberto Garcia, na qualidade de director do Gabinete de Estudos e Análises Estratégicas dos Órgãos Auxiliares do PR, foi o grande orador e figura de destaque do evento e foi apresentado como estando a falar em representação do Presidente da República, João Lourenço. Nesta quarta-feira, João Lourenço recebeu, no Palácio da Cidade Alta, os representantes da MONAAR e alguns dos delegados aos eventos, numa actividade em que o secretário de Estado Vieira Lopes esteve presente.

Estes atropelos, esta falta de comunicação e coordenação e estas usurpações de competências só revelam que não existe uma estratégia estruturada, sólida, consistente e inteligente para a diáspora.
Uma boa parte da diáspora angolana sente-se excluída, desprezada, destratada e desvalorizada por um Estado que não consegue realizar as suas expectativas. Faz-nos falta uma pedagogia de afectos nas relações e uma diplomacia de proximidade. Os angolanos precisam de uma abordagem sincera e objectiva, longe de certos populismos e retóricas propagandísticas que roçam a pura manipulação e desvalorização da sua capacidade de análise, raciocínio e visão dos factos. Os angolanos na diáspora precisam de sentir e de perceber que são verdadeiros protagonistas das políticas, estratégias e programas do Executivo e não meros actores secundários de estratégias de propaganda, manipulação mediática e de populismo de certos aprendizes de Gobbels que a política nacional tem estado a criar, a promover e a proteger.