A Toyota em Angola, uma das multinacionais há mais tempo no país, está a proceder a uma reestruturação alargada da sua estrutura de quadros como forma de se adaptar aos tempos de crise, e um sinal disso são os mais de 200 funcionários que em Agosto saíram da empresa por mútuo acordo.

O Novo Jornal Online sabe que, de entre os trabalhadores que acordaram com a empresa sair, estão cerca de duas dezenas de quadros superiores e intermédios, alguns destes são expatriados, embora o grupo mais afectado seja o dos trabalhadores sem cargos de chefia nas oficinas e nos serviços administrativos.

O movimento de saída de funcionários da Toyota acontece num momento em que a multinacional enfrenta o impacto da crise na sua laboração, nomeadamente nas vendas de automóveis, que, segundo apurou o Novo Jornal, decaiu de forma significativa nos últimos dois anos, a ponto de serem residuais os números de viaturas em stock.

A razão para este cenário difícil está na dificuldade de importação de veículos, por causa da escassez de divisas no país, que, como se sabe, resulta da queda abrupta do preço do petróleo nos mercados internacionais.

Para além desta dificuldade em manter o stock de viaturas para venda, que chegava a ultrapassar as sete centenas e agora está reduzida a números insignificantes, a empresa enfrenta ainda a diminuição do recurso às oficinas pelos clientes, para, entre outros serviços, as manutenções das viaturas vendidas, que é uma das importantes fontes de rendimento da empresa.

Este movimento de adaptação do quadro de trabalhadores à nova realidade do país é descrita como um encolhimento estrutural porque a Toyota em Angola, cuja administração é feita directamente pela casa-mãe no Japão, estava adequada ao anterior período de bonança, onde eram mensalmente vendidos milhares de viaturas e as oficinas, de mecânica, pintura e bate-chapas estavam em permanente burburinho.

"Agora tínhamos uma empresa excessivamente grande, em quadros e em departamentos, que não correspondia, nem de perto nem de longe, às necessidades actuais", apontou uma fonte da empresa, sublinhando que esta saída significativa de trabalhadores decorreu sem protestos porque a empresa teve o cuidado de ser correcta na atribuição das indemnizações, o que satisfez as pessoas afectadas.

A maior parte dos que saíram, embora ainda estejam a decorrer "pequenas adaptações que podem resultar em mais saídas, mas sempre em número muito limitado", foram avisados no dia 10 de Agosto e foi ao longo deste mês que a maior parte das saídas foi concretizada.

Como "bónus", a Toyota permitiu ainda que os trabalhadores afectados mantivessem o seguro de saúde até ao fim destes.

Esta postura permitiu que a empresa conseguisse evitar os protestos dos trabalhadores, sempre danosos para a sua imagem em Angola.

Sinal preocupante e algum alívio

Mas este cenário é mais um indicador da profundidade da crise que o país atravessa e que a Toyota não está à espera que a economia angolana recupere a breve trecho, esperando antes que se prolongue, sendo este encolhimento uma estratégia para conseguir aguentar o mercado e estar pronta para quando este retomar a anterior "performance".

A situação na Toyota não difere muito dos problemas que outras empresas de venda de automóveis e veículos de mercadorias estão a enfrentar, sendo evidente o acentuado declínio das vendas e a quebra evidente da procura dos seus serviços de apoio, como é o caso das diversas oficinas especializadas.

Mas há, no entanto, alguns sinais de alívio proporcionados por compras de viaturas decididas pelo Governo, que vai comprar, através do Ministério dos Transportes, para vários fins, quase 4.500 viaturas, inclusive autocarros para transporte escolar para reduzir o absentismo dos alunos, num investimento público de 783 milhões de dólares.

A informação consta de três diferentes despachos assinados pelo Presidente angolano, José Eduardo dos Santos, com data de 15 de Setembro, autorizando os respectivos contratos para aquisição de viaturas, ligeiras e pesadas, que globalmente ascendem ao equivalente a 783 milhões de dólares.

O primeiro desses contratos prevê a compra à empresa ASPERBRAS de 1.500 autocarros para transporte escolar, por 383,5 milhões de dólares. A medida visa "implantar o conceito de transporte escolar com prioridade para os estudantes e reduzir os índices de absentismo nas escolas", lê-se no respectivo despacho.

O segundo autoriza a compra à Amer-Com Corporation de 1.272 viaturas para "ampliar a oferta de serviços de transportes de passageiros e de mercadorias e apoiar a actividade produtiva", num negócio de 191,5 milhões de dólares.

Por último, o terceiro despacho autoriza, igualmente o Ministério dos Transportes, a comprar também à Amer-Com Corporation 1.700 viaturas, por 208,3 milhões de dólares, "para concluir o plano de reposição e distribuição dos meios que foram destruídos pela acção da guerra e que se encontravam ao serviço do Estado".

Esta última compra visa, nomeadamente, apoiar a actividade agrícola, piscatória, pecuária, desenvolvimento rural, actividade produtiva e o comércio local, ao nível dos municípios e comunas do país.