A razão para este prolongado sufoco foi, essencialmente, um conjunto de factores que surgiram quase ao mesmo tempo nas últimas semanas, seja o anúncio da OPEP+ que vai repor produção já em Abril e dados de alguma fragilidade nas economias dos EUA e da China.
E já esta semana, com ligação directa a esta recuperação do barril de Brent, que é a referência principal para as ramas exportadas por Angola, estão, além da questão da queda nas reservas estratégicas dos EUA, a redução das exportações da Venezuela devido à reposição por Donald Trump das sanções norte-americanas que a anterior Administração Biden tinha aliviado.
O risco de um retomar das sanções sobre o crude iraniano, com os norte-americanos a pressionar Teerão devido ao se alegado continuar da produção de urânio enriquecido para o seu programa nuclear hostil, é também parte das razões para este esverdear dos gráficos nos mercados petrolíferos.
E a subida do valor da matéria-prima só não é mais pujante devido ao sucesso, mesmo que ainda reduzido, das negociações mediadas por Washington para o fim, parcial, para já, das hostilidades entre russos e ucranianos, considerando que esse é o caminho mais curto para o alívio das sanções sobre o sector energético russo.
E a Federação Russa é só e apenas o 3º maior produtor de crude do mundo, a seguir aos EUA e à Arábia Saudita, e o 2º maior exportador, apenas atrás dos sauditas, o que se pode traduzir, na perspectiva dos analistas dos mercados, como um regresso deste actor global à actividade com menos restrições, o que equivale a mais petróleo na oferta, logo mais barato.
Assente nestes factores, o barril de Brent trepou esta quarta-feira, 26, para os 73,72 USD, uma subida de 0,93%, perto das 11:55, hora de Luanda, o que representa um máximo de três semanas e uma forte lufada de ar fresco para as contas nacionais, há muito em sufoco, como se percebe pelos números flamejantes da inflação, as fraquezas cambiais do Kwanza...
A OPEP+ é mais um problema
E tudo isto, aliado ao facto já anunciado de que a OPEP+ vai retomar parcialmente a produção, aumentando 138 mil barris por dia já em Abril, começando um percurso longo mas, crê-se, sólido, de regresso à produção normal, actualmente quase 6 mbpd abaixo do "normal", deu-se início a um novo risco, o do excesso de produção.
E foi precisamente isso que levou a Goldman Sachs a divulgar um comunicado onde os seus analistas apontam para um corte no valor da matéria-prima.
Tudo somado, a gigante casa financeira norte-americana aponta para um ano de 2025 carregado de crude que a economia planetária não vai consumir, pressionando, naturalmente, os preços em baixo, admitindo mesmo uma queda acentuada do preço.
E para piorar as expectativas, a Agência Internacional de Energia (AIE) veio, quase em simultâneo, sublinhar que a produção actual passa em 600 mil barris por dia a procura, reduzindo significativamente a procura ao longo de 2025, o que encaixa nos dados referenciados pelos "super traders", que também estão a fazer soar as campainhas de alarme.
"A indústria está a extrair petróleo em excesso", avisam os analistas, embora alguns admitam que a manipulação dos dados é sempre possível e que este momento aparentemente de risco para o sector, pode bem ser resultado da pressão pública e notória dos EUA sobre os países exportadores, especialmente os sauditas e os russos.
É que ninguém ignora que Donald Trump tem feito tudo para baixar o valor do crude de forma a combater a inflação nos EUA e ajudar a melhorar os indicadores, como prometeu antes do seu regresso ao poder, a 20 de Janeiro deste ano.
É que, inesperadamente, considerando apenas factores de mercado, este momento, com aumento relevante entre os países da OPEP+, organização que junta os Países Exportadores (OPEP) e a Rússia ao lado de outros mais pequenos produtores, e também nos países fora da OPEP+, não fora previsto pelos oráculos mais experimentados.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional, apesar deste momento mais auspicioso, tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.