A retirar flutuabilidade ao barril de Brent, que guia o valor das ramas exportadas por Angola, estão os dados pessimistas da economia chinesa e as tarifas alfandegárias desenhadas pelo Presidente dos EUA, Donald Trump, para serem usadas como arma contra os "inimigos".
Na primeira linha dos alvos que Trump visa com as tarifas está a China, o gigante asiático que é o maior importador de crude do mundo e a segunda economia mais robusta do planeta, fazendo desta um barometro especial para o sobe e desce do sector petrolífero.
E, depois de uma semana difícil, com o Brent a descer claramente abaixo da linha de água usando os 70 USD do OGE 2025 angolano, chegando mesmo aos 68 USD a 05 de Março, esta segunda-feira, 10, apresenta uma ligeiramente melhor flutuabilidade.
Assim, perto das 09:00, hora de Luanda, o barril de Brent, sendo que em Nova Iorque o WTI tem tido comportamento semelhante, (67,05 USD) estava a valer 70,38 USD, valor exactamente igual ao fecho da sessão anterior, mas com perspectivas de perdas para o resto do dia.
Isto, porque a um ganho muito ligeiro de 0,05 por cento, regressou às perdas, forçadas, segundo os sites e agências especializadas, como consequência dos efeitos das tarifas norte-americanas contra as exportações chinesas, mas também as esperadas sobre o Canadá, México e União Europeia.
O efeito das tarifas dos EUA não é meramente o de refrear as exportações chinesas, o grande motor desta economia, tem ainda o ónus de gerar desconfiança sobre cumprimento do objectivo decidido pelo Governo de Pequim de atingir um crescimento de 5% em 2025.
Na mesma linha dos efeitos negativos das decisões tomadas em todo o mundo para desvitalizar o sector petrolífero está a já anunciada pela OPEP+ de retomar parcialmente parte da produção, mesmo que ligeira, retirada ao longo anos para equilibrar os mercados.
Assim, já em Abril, o cartel, que junta a Rússia, e outros, à OPEP desde 2017, vai reinjectar 130 mil barris por dia nos mercados naquilo que parece ser, pelo menos foi assim anunciado, o início de um processo de retoma da produção levando paulatinamente ao regresso dos cerca de 6 mbpd que estão artificialmente fora dos mercados.
Alguns analistas começam a falar de um desacerto de timing da OPEP+ para aumentar a produção, porque esta está a acontecer num momento de incerteza, com a União Europeia a referir novas sanções à Rússia quando são já claros os efeitos dramáticos destas nas economias do bloco comunitário, ou com um flamejante regresso das guerras comerciais de Trump contra tudo e contra todos.
Porém, segundo avança a Reuters, a possibilidade de Donald Trump avançar com um aligeiramento das sanções sobre a Rússia (um dos maiores exportadores mundiais), no contexto da normalização das relações entre Washington e Moscovo, e as negociações para um acordo de paz na Ucrânia, pode ajudar a consolidar este mau momento para a matéria-prima.
E se o crude vive um mau momento, as petroeconomias, como a angolana, não podem respirar muita saúde.
Como Luanda olha para este cenário global?
O actual cenário internacional tende a empurrar os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.
Preços estes que, apesar de ainda estarem acima desse valor, estão agora mais próximos da linha em que os alarmes começam a disparar em Luanda.
Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.
No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.