No final da sessão de quarta-feira, 05, o barril de Brent chegou mesmo a tocar nos 68 USD, fazendo parecer que os efeitos das anunciadas tarifas norte-americanas sobre as importações da China poderiam mesmo dar início a uma catastrófica perda de valor da matéria-prima.

Mas uma ligeira recuperação já nesta quinta-feira, 06, embora ainda abaixo dos 70 USD, afastou, para já, o cenário de queda descontrolada gráficos abaixo, muito porque a OPEP+, que tinha anunciado uma retoma da produção, deixou saber que essa recuperação será muito ligeira.

A Reuters avança, contudo que as perdas mais recentes resultam de um pesado "sell-off" generalizado, levando mesmo o Brent para um valor recorde de anos (Dezembro de 2021), com perdas de mais de 6% em apenas quatro sessões...

Apesar de um descalabro ter sido evitado in extremis, os especialistas notam que o momento permanece frágil, com a questão das tarifas dos EUA sobre as importações da China, Canadá e México, e também da União Europeia no horizonte, que pode levar a economia mundial a um período de forte desconfiança, com os efeitos negativos conhecidos que esses períodos têm no negócio do crude.

E se a OPEP+, num processo de retoma da produção após anos a fio de redução artificial para equilibrar os mercados que ainda está por ser devidamente percebido, porque contraria os interesses sauditas e russos, mantiver o calendário dessa retoma, a situação para os países exportadores com economias petrodependentes, como a angolana, podem ainda piorar mais.

Uma das razões para que a queda não tenha sido tão pronunciada como se chegou a temer ao longo do dia de quarta-feira, 05, foi a excepção introduzida no plano de tarifas dos EUA sobre o sector automóvel e ainda uma possível diluição dos valores das tarifas apontadas ao Canadá, especialmente no sector energético.

A questão das tarifas norte-americanas sobre as importações chinesas é de extrema relevância neste contexto porque, sendo a segunda maior economia global e o maior importador mundial de energia, uma quebra no motor da economia do gigante asiático tem efeitos de bola de neve em todo o sector.

Além disso, se a OPEP+, que vai acrescentar já em Abril 138 mil barris por dia à produção, mantiver o ritmo, até ao final do ano a situação poderá ainda ficar mais difícil para conseguir segurar o preço do barril na fasquia dos 60 USD, onde já está agora.

Em Angola, por exemplo, com o OGE 2025 elaborado com base num valor de 70 USD para o barril, se este se mantiver por um período alargado a estes níveis, poderá obrigar o Governo a avançar para uma revisão do documento reitor das contas nacionais.

Para já, o cenário condiz com essa possibilidade, com o barril de Brent a valer 69,60 USD, perto das 11:00, hora de Luanda, desta quinta-feira, 06, um valor que representa uma ligeira recuperação de 0,56% face ao fecho da sessão anterior.

Como Luanda olha para este cenário global?

O actual cenário internacional tende a manter os preços para muito próximo, ou mesmo abaixo, do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD.

Preços estes que estão na linha em que os alarmes começam a disparar nas capitais dos países mais dependentes das exportações da matéria-prima, como é o bem conhecido caso de Luanda.

Essa a razão pela qual Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações, devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial.

No entanto, porque o OGE nacional elaborado para 2025 apostou nos 70 USD, o actual valor já deixa as contas nacionais mais periclitantes e mais expostas a qualquer desequilíbrio internacional, podendo o Executivo optar por uma revisão do OGE.

Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.