Com o começo da guerra na Ucrânia, a 24 de Fevereiro, o barril de petróleo, como sempre sucede em alturas de instabilidade global, e ainda mais quando no epicentro do problema está um dos maiores produtores/exportadores do mundo, como é o caso da Federação Russa, voltou a brilhar nos mercados internacionais, tendo mesmo ficado a escassos sete dólares do máximo de sempre, conseguido em Junho de 2008, quando atingiu os 147 USD.
Países exportadores como Angola voltaram a poder respirar com alívio ao fim de anos de crise provocada pelos preços baixos do crude, e muito baixos a partir de Março de 2000, quando ocorre o fenómeno planetário da pandemia da Covid-19, mas, como não há bonança que sempre dure nem mal que não acabe, a matéria-prima está agora a pagar o preço do sucesso, que é a já esperada inflação e a pior das suas consequências, que é a recessão, já confirmada em países europeus, como a Alemanha, mas que agora as instituições financeiras internacionais admitem que se torne global.
E com uma recessão global, a economia trava a fundo e o seu principal combustível, o petróleo, ressente-se com severidade, o que fez com que no passado dia 9 o Brent tenha atingido o mínimo de mais de um ano, pouco acima dos 76 USD, e hoje tenha chegado aos 78,40 USD perto das 12:30, hora de Luanda.
No imediato, como sublinha a Reuters, a ligeira subida a que se assiste é resultado directo de um fenómeno localizado nos EUA, devido ao receio de que a entrada em funcionamento prevista de um importante oleoduto (Keystone) e ainda com a ameaça do Presidente russo, Vladimir Putin, de responder ao boicote europeu (imposição de um tecto máximo por barril) ao crude russo com um corte impactante na produção e o fechar da torneira para os "países hostis".
Isto é de extrema importância porque a Rússia é actualmente o maior exportador de petróleo planetário, o que pode condicionar fortemente o acesso a esta fonte de energia, estando ainda em cima da mesa a possibilidade de Moscovo proceder de igual modo com o fornecimento de gás aos países com posições anti-Rússia.
Esta valorização tem ainda como húmus a decisão do governo chinês de aliviar as medidas de controlo do Sars CoV-2, devido aos violentos protestos que atravessaram o país, o que permite aos mercados percepcionar um aumento das importações chinesas, sempre com impacto positivo nos mercados considerando que se trata da segunda maior economia mundial e o maior importador de crude do mundo.
Este cenário global, para a economia angolana, que ainda tem no petróleo 95% das suas exportações globais, mais de 60% das receitas do Estado e cerca de 35% do seu PIB, não é forçosamente bom, porque a volatilidade é o elemento mais em relevo e o barril pode voltar a um plano inclinado nos mercados.
Aliás, o Governo de João Lourenço, que elaborou o seu OGE para 2023 com um preço de referência para o barril nos 75 USD, tem ainda como motivo de preocupação a recente divulgação de um relatório da consultora Fitch Solutions, onde se antecipa uma redução da produção de petróleo na ordem dos 20% na próxima década, com origem no desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair.
Ameaças no virar da esquina
Há muito que se sabe que os combustíveis fósseis estão condenados devido ao seu impacto calamitoso no clima global e a transição energética está, passo a passo, a impor a sua substituição por energias limpas. Foi dado um passo relevante nesse processo e o fim do crude como energia essencial ficou mais perto.
A Lusa noticiou, em conjunto com a generalidade dos media internacionais, que cientistas nos Estados Unidos conseguiram chegar mais perto do Santo Gral da produção de energia limpa, sem produção de quaisquer gases com efeito de estifa.
Pela primeira vez foi possível produzir numa reação de fusão nuclear mais energia que a que foi consumida, noticiou hoje a imprensa.
Segundo o jornal britânico Financial Times, a reação produziu 2,5 megajoules de energia face aos 2,1 megajoules usados para alimentar os `lasers` que serviram para bombardear isótopos de hidrogénio mantidos num estado de plasma sobreaquecido com o intuito de fundi-los em hélio, libertando um neutrão e energia limpa (livre de carbono).
A experiência, que constitui um avanço no uso da tecnologia de fusão nuclear para produzir energia limpa, barata e quase ilimitada, foi feita no Laboratório Nacional Lawrence Livermore, especialista em investigação nuclear.
O processo de fusão, o oposto da fissão de átomos pesados (de urânio) em que assenta a energia nuclear atual, consiste em juntar átomos de elementos leves, como o hidrogénio, a altas temperaturas, formando hélio e libertando uma enorme quantidade de energia na forma de calor. As reações de fusão são geradas por estrelas como o Sol.
A tecnologia de fissão nuclear, que gera resíduos altamente radioativos, apenas produz 10% da energia mundial, muito menos do que o carvão e o gás (combustíveis fósseis com forte impacto no ambiente).
Se esta experiência for concluída de forma a começar, através dela a fornecer energia limpa à economia global, o petróleo terá os dias contados mais depressa do que se pensava e as economias dos países petrodependentes vão ressentir-se fortemente.