Há semanas que a questão do tecto da dívida, actualmente em 31,4 biliões (triliões no sistema angolo-saxónico), e o risco de incumprimento, já a 05 de Junho, se republicanos e democratas não se entenderem no Congresso para aumentar o limite da dívida absorve a atenção dos media internacionais, mas só agora se percebeu que o pior pesadelo para a economia norte-americana (a maior do mundo), e, por arrasto, do planeta inteiro, é mais real que nunca.
Com o cancelamento desta viagem para a capital australiana, Joe Biden deixa perceber que as negociações entre democratas e os republicanos, que dominam agora a Câmara dos Representantes, não estão a correr bem e existe uma possibilidade real de "default" da maior economia mundial.
Para este cenário complexo e raro, contribui claramente o período eleitoral nos EUA, a pouco mais de um ano das eleições Presidenciais, onde Biden deverá encontrar de novo no boletim de voto Donald Trump, que tem, na crise económica e na guerra da Ucrânia das principais armas de arremesso eleitoral para derrotar o actual Presidente.
Ao alargar este período de pânico, os democratas procuram encostar a Administração Biden às cordas, forçando o Presidente a aceitar as condições republicanas para aceitarem o alargamento do limite da dívida (actualmente em 31,4 triliões), a única forma de o país pagar os seus compromissos com a dívida até 05 de Junho.
Entre essas exigências republicanas está a redução substantiva da despesa por parte do Governo, o que tem como consequência imediata, entre outras, a redução da disponibilidade financeira para alguns projectos estruturais, incluindo a remodelação de grande parte das infra-estruturas, e, com maior ênfase mediática, o financiamento ilimitado do esforço de guerra dos ucranianos, que já ultrapassou largamente os 100 mil milhões USD.
O aumento deste tecto de dívida, cujo valor em cima da mesa não foi ainda divulgado, é bastante comum nos EUA e deste 2001 tem subido quase 1 bilião USD (1.000.000.000.000) por ano, sendo que, quase sempre o entendimento entre os dois partidos do Congresso, democratas e republicanos, tem sido conseguido face ao facto de, como se alternam entre si no poder, ambos beneficirem da medida, que, na sua natureza, corresponde a encontrar no exterior financiamento para a diferente entre os gastos do Estado e o que este recolhe todos os anos, na maior parte em impostos.
Só que, esse entendimento tácito tem como prazo de validade os interesses de cada um dos partidos, e os republicanos neste momento pré-eleitoral só têm a ganhar em criar stresse na Administração Biden, que é como quem diz, dificultar-lhe a vida o mais possível para o fragilizar eleitoralmente.
E isso parece estar a acontecer como o demonstra o cancelamento desta ida à Austrália, para abordar nem mais nem menos que o funcionamento da principal organização que os EUA alimentam no seu esforço de combate à expansão global da China, especialmente no sudeste asiático, uma das maiores inquietações de Washington da actualidade.
É ainda de sublinhar que se os EUA entrassem mesmo em "default", o que, na verdade, poucos acreditam que vá suceder, apesar do risco, as consequências para o resto do mundo seral avassaladoras, desde logo nas taxas de juro, a desconfiança no sistema financeiro... e o continente africano estaria, como sempre, entre os mais fustigados.