Já hoje, quando termina o encontro dos sete magníficos, Donald Trump veio garantir que norte-americanos e chineses vão voltar "em breve" a sentar-se à mesa para retomar as conversações que podem colocar um ponto final na guerra de tarifas que já superou os 300 mil milhões de dólares sobre os produtos Made in China que entram nos EUA e mais de 100 mil milhões sobre os bens Made in USA que chegam às alfândegas chinesas.

Mas, sem dar o braço a torcer, apesar dos danos que este conflito entre as duas mais robustas economias globais, Donald Trump anunciou este regresso à mesa das negociações explicando que foi Pequim que pediu que assim fosse e, face a esse pedido, o Presidente dos Estados Unidos aceitou que a "paz" tivesse uma nova possibilidade.

Apesar das suspeitas e receios de que se trate apenas de mais uma tentativa infrutífera, como outras que se têm sucedido, os mercados bolsistas nas principais praças mundiais, bem como os mercados do petróleo, reagiram com ganhos ligeiros, apesar de, no que toca aos interesses mais imediatos de Angola, no caso no Brent londrino, o barril se manter irredutível abaixo dos 60 USD, ou escassos cêntimos acima desse valor, há semanas.

Mas, mesmo que ainda sem o vigor que a economia nacional tanto deseja e aguarda, depois de no final da semana passada o barril ter voltado a abanar fortemente em baixa após o anúncio chinês de mais 75 mil milhões USD de tarifas sobre produtos americanos, ainda no âmbito da guerra comercial que se prolonga com os EUA.

Alias, alguns analistas admitiram mesmo que o anúncio feito por Trump no sul de França foi um resultado directo da ameaça chinesa, visto que alguns sectores da economia norte-americana, como o agro-negócio ou nas tecnológicas, se têm visto aflitos com a pressão tarifária chinesa sobre a sua produção.

O mundo já estava mesmo, como se pode verificar pelas reacções sublinhadas pelas agências internacionais, preparado para enfrentar uma nova vaga de ataques e contra-ataques, como aquela que há alguns meses levou os EUA a aplicararem tarifas entre 15 e 25% sobre mais de 50% do total de 500 mil milhões de dólares em mercadorias importadas pelos EUA da China.

Mas foi com alívio, mesmo que condicionado à necessidade de confirmação factual, devido à desconfiança criada pelos sucessivos insucessos à mesa das negociações, que os mercados, bolsas e petróleos, reagiram.

Recorde-se que em causa está a exigência de Trump à China para acabar com os apoios estatais à empresas exportadoras chinesas, distorcendo o mercado, o fim do "roubo" de tecnologia norte-americana, a abertura e o fim das restrições legais à importação de mercadorias americanas ou ainda, entre outras, sobre questões relacionadas com tecnologias de espionagem alegadamente inseridas nos softwares dos novos telemóveis chineses e na rede 5G.

Desta feita, os chineses visaram com os seus 75 mil milhões USD de novas tarifas a soja, a carne de porco e mesmo petróleo, o que está a levar estes sectores, normalmente poderosos em e politicamente influentes, a pressionarem a Casa Branca para arrefecer os ânimos face ao crescente mal-estar demonstrado por Pequim.

Para Angola, que ainda está longe de ver a sua economia poder "caminhar" sem a muleta do petróleo, é fundamental que as duas maiores potências económicas planetárias se entendam de forma a que a economia mundial se desprenda do risco de recessão ou estagnação, como o FMI e o Banco Mundial têm alertado com insistência, o que é um passo fundamental para o aumento da procura de crude e, assim, impulsionar em alta o seu valor nos mercados internacionais.

Já hoje, o Brent, de Londres, estava a vender o barril a 59,20 USD cerca das 10:15, contra os 58,80 USD com que fechou na sexta-feira, sendo este já efeito do sinal enviado por Donald Trump desde o sul de França.

Por outro lado, também importante, foi a presença surpreendente do ministro dos Negócios Estrangeiros, Javad Zarif, na Cimeira do G7, o que permite antecipar evoluções positivas na tensão entre Teerão e Washington, visto que, perante a presença de Zarif, Trump admitiu que existe espaço para melhorar a situação e mesmo de haver um encontro importante com as autoridades iranianas e norte-americanas, tendo mesmo feito elogios ao "tremendo potencial" do Irão.

Desvalorização do Yuan, a "arma secreta" de Pequim

A desvalorização da moeda chinesa, o Yuan, tem sido um quebra-cabeças para o Governo de Trump, visto que é uma espécie de "antidoto" para o "veneno" das tarifas inoculado por Washington na economia chinesa e hoje essa diminuição do seu valor face ao dólar atingiu um recorde de 11 anos.

Face a este novo prolema e um forte impulsionador da crise, visto que os americanos não estão a gostar de ver que Pequim está a diluir o efeito das tarifas através da perda de valor da sua moeda face ao USD, acompanhando esse trajecto com fortes críticas e novas ameaças, embora, agora, com a promessa de regresso às conversações.

Ao passar a valer 7,15 Yuan, o dólar norte-americano regressa a 2008 em termos do seu valor face à moeda chinesa, o que faz regressar a ameaça de repetição do cenário ocorrido há três semanas, quando as bolsas mundiais caíram a pique depois de Pequim levar a sua moeda ao valor mais baixo em mais de uma década.

yuan caísse para o valor mais baixo em onze anos, em relação ao dólar, no que foi interpretado como uma retaliação pelo anúncio de novas taxas alfandegárias sobre importações oriundas da China pelos Estados Unidos.

Recorde-se que esta desvalorização recorde do Yuan ocorre num momento em que a China tinha anunciado a imposição de tarifas de 5% e 10% sobre mais 75 mil milhões de USD em bens Made in USA, o que levou Trump a ameaçar com um agravamento de 25 para 30% sobre 250 mil milhões de USD sobre mercadorias oriundas da China e 15% sobre os restantes 350 mil milhões.

Não estava a correr bem. Alguns analistas já estavam a antecipar uma crise global só comparável à que em 2008 varreu o mundo com efeitos que ainda hoje se sentem.

E foi face a esse drama anunciado que Trump estendeu a passadeira para a mesa das negociações, mais uma vez, a Pequim, embora tenha sido o próprio a dizer que foram os chineses que pediram.

Da China, nem confirmação, nem desmentido sobre quem telefonou a quem, mas Xi Jinping, o poderoso Presidente chinês, tem dito sempre que negociar é bom para ambos os contendores.

Para já, parece que vai ser assim. Mas já assim foi noutras alturas.