O MINTRANS, que fez sair um comunicado depois de o Novo Jornal avançar com a notícia de que o Governo ia comprar 600 autocarros por ajuste directo, no valor total de 323,5 milhões de euros, o que, contas feitas, faria com que cada veículo custasse mais de 500 mil euros, afirma que "com o investimento alocado para esta operação garante-se também o arranque da construção da fábrica num investimento estimado em 90 milhões de euros, com o objectivo de se reduzir a dependência das importações e de promover a autonomia industrial do país"

A notícia do Novo Jornal, feita com base num despacho presidencial, avançava que o ajuste directo tinha como objectivo a aquisição de 600 autocarros a um consórcio entre as empresas Opaia Europa e IDC International Trading. O procedimento valia 323,5 milhões de euros e a despesa era autorizada pelo Chefe de Estado ao abrigo do programa de expansão dos transportes públicos. O despacho não mencionava qualquer intenção de construção de uma fábrica nem de criação de postos de trabalho.

Segundo o MINTRANS, no comunicado que fez sair depois, "prevê-se que esta fábrica possa vir a exportar veículos para os países vizinhos, contribuindo acentuadamente para a arrecadação de divisas e para a diversificação da economia de Angola".

A oposição, ouvida pelo Novo Jornal, reagiu, dizendo, pela voz de Marcial Dachala, em representação da UNITA, desconhecer a intenção do Governo de construir uma fábrica de montagem de autocarros na província do Bengo, pois tal projecto não está inscrito no Orçamento Geral do Estado aprovado pela Assembleia Nacional, afirmando que mais tarde o seu partido faria "um pronunciamento público" sobre o assunto.

O economista e jornalista Carlos Rosado de Carvalho, que fala em falta de transparência e opacidade, lembra que o Presidente da República tem tido o poder de alterar o Orçamento Geral do Estado, retirando e acrescentando projectos de acordo com a sua vontade e fazendo ajustes directos de milhões de dólares ou euros "escudando-se nas linhas de crédito".

Rosado diz que depois da leitura do comunicado do MINTRANS ficaram mais dúvidas do que certezas .

"Se o Governo anda a privatizar indústrias e outros activos, porque é que vai investir dinheiro numa fábrica de montagem de automóveis?", "É um investimento público?, pergunta, questionando igualmente o porquê de o Governo não escolher empresas angolanas, nomeadamente concessionários, para comprar estes autocarros e outros veículos que tem vindo a adquirir. Por último, o economista e jornalista defende que o MINTRANS deve mostrar os contratos da aquisição dos autocarros e da empreitada de construção da fábrica de montagem.