Com o anúncio de uma proposta da Comissão Europeia para que os 27 países-membros avancem para o embargo total ao crude Made in Russia, os mercados voltaram a vibar como não acontecia desde o início da guerra na Ucrânia que está por detrás desta medida contida no 6º pacote de sanções de Bruxelas a Moscovo como punição pela agressão ao país vizinho.
Apesar da ideia de Ursula Von der Leyn, a líder da Comissão Europeia, pretender agarrar todos os países para este acelerar dos castigos a Moscovo, pelo menos dois países, a Hungria e a Eslováquia já disseram que não alinham com a "chefa" porque a sua dependência total do petróleo russo poderia criar vulnerabilidades insustentáveis com a aprovação dessa medida radical.
Os mercados não estão a reflectir a possibilidade de veto dos dois países - todas as decisões na União Europeia são tomadas por unanimidade - porque a proposta de Von der Leyen já consubstancia uma excepção para os países que não estiverem aptos a assumir esse passo, como, por exemplo, estão a Alemanha ou a Áustria, entre outros, fortemente dependentes do crude russo mas não a ponto de um embargo total criar uma circunstância insuportável.
Com essa condição assegurada, os mercados continuam hoje a reflectir o risco de disrupções no fornecimento porque existe a possibilidade de o crude que chega hoje aos países europeus não ser imediatamente substituído por outros fornecedores, até porque a Rússia é actualmente o segundo maior exportador do mundo, atrás dos sauditas, e o 3º maior produtor global, depois de norte-americanos e sauditas.
Também o Japão, uma das maiores economias mundiais, se prepara para avançar no mesmo sentido da União Europeia, admitindo fortes dificuldades no imediato.
O barril de Brent, que serve de referência para as ramas exportadas por Angola, estava a valer hoje, perto das 12:20, hora de Luanda, 110,74 USD, nos contratos para Junho, subindo 0,5% em relação ao fecho de quarta-feira, dia em que a subida foi superior a 5,5 por cento.
Os analistas admitem que estas subidas, no entanto, seriam maiores se a China, a 2ª maior economia mundial e o maior importador planetário, não estivesse, de novo, a viver o sufoco dos confinamentos gigantescos de milhões de pessoas por causa da Covid-19, em cidades como Xangai e Pequim, o que induz de imediato uma diluição do vigor económico, o que os dados oficiais já começam a reflectir com menos consumo interno e menor importação.
Entretanto a OPEP+, a organização que desde 2017 agrega os 13 países da OPEP e 10 desalinhados incluindo a Rússia, na sua reunião mensal para analisar os mercados e adequar o seu programa de reposição da produção encolhida por causa da pandemia em 2020, anunciou que esse mesmo programa permanece inalterado, mantendo um aumento de apenas 430 mil barris por dia mensalmente, o que choca de frente com a vontade dos países europeus e os EUA, que têm estado a pressionar o "cartel" para aumentar com mais vigor a produção de forma a reduzir o impacto dos embargos - que nos EUA já é total - ao crude russo por causa da guerra na Ucrânia.
O secretário-geral da OPEP, o nigeriano Mohammad Barkindo, citado pelas agências, voltou a sublinhar que a organização não dispõe de capacidade para substituir o crude russo, como é o caso de Angola, porque, tal como outros produtores associados, viu a sua infra-estrutura produtiva fragilizada por anos a fio de crises sucessivas.
Angola, cuja produção, recorde-se, tem vindo a diminuir de forma substancial desde 2014, pelo menos, estando actualmente perto dos 1,1 milhões de barris por dia, longe dos 1,8 milhões de há uma década, tem nesta subida dos preços do barril nos mercados ganhos volumosos, sendo, segundo a Fitch, um dos países produtores mais beneficiados com estes ganhos recentes.
O sector petrolífero é, alias, fundamental para o País, visto que ainda representa 95% das exportações, 35% do seu PIB e mais de 60% das suas receitas fiscais que garantem o funcionamento do Estado.