Os analistas mais atentos ao negócio global do crude estão hoje, segunda-feira, 31, a dizer, com raras excepções, que o barril está a subir impulsionado por um contexto geopolítico periclitante, desde logo a crise político-militar no leste europeu, ainda sob a ameaça de um conflito Rússia-Ucrânia, ou no Médio Oriente, devido aos sistemáticos ataques dos rebeldes iemenitas às monarquias do Golfo, mas que esse é apenas um motivo circunstancial para a sua valorização.

O que vai determinar a corrida do petróleo para os 100 dólares norte-americanos por barril é a sua fragilidade no down stream, ou seja, uma produção desgastada por anos de crise severa que teve o seu ponto de ignição em 2014, com uma queda abrupta no valor da matéria-prima, chegado de mais de 120 USD para menos de 30 em 2016, o que despoletou um largo período de anos de desinvestimento na pesquisa e produção.

Facto que, como a consultora Wood Mckenzie já sublinhava em 2016, desde 1947 que não se verificava um volume de investimento em pesquisa tão baixo, o que, hoje, se traduz por um cenário perigoso para as grandes economias dependentes das importações de energia, que é a escassa capacidade de produção desaguar numa economia pós-pandemia a esteróides, o que, inevitavelmente, levará a uma subida vigorosa do valor do crude nos mercados.

Este é um dos motivos, por exemplo, pelos quais a financeira global Goldman Sachs tem sublinhado desde 2020 que o barril vai atingir os 100 USD ao longo de 2022 ou início de 2023, enquanto, por exemplo, o Presidente russo, Vladimir Putin, que lidera o país com a segunda maior produção do mundo, entende que este cenário pode levar o barril além dos 200 USD.

Mas, para já, mais cautelosos, os investidores em Wall Street, como lembram as agências, estão a trabalhar num contexto em que, no Verão deste ano, entre Julho e Agosto, o barril de Brent estará nesse patamar, enquanto o WTI, vendido em Nova Iorque, estará muito próximo.

Para já, hoje, o barril, perto das 10:10, hora de Luanda, estava a valorizar 1,12%, para os 91,03 USD, em Londres, enquanto em Nova Iorque a medida WTI valorizava 1,06% para os 87,74 USD, à mesma hora.

Por detrás desta ascensão está ainda e sempre a incapacidade produtiva da gigante OPEP+, a organização que junta desde 2017 os 13 Países Exportadores (OPEP) e os 10 não-alinhados com a Rússia à frente, que, a par das restrições à produção como mecanismo de controlo dos mercados, num programa que remonta já a Junho do ano passado, se debate com uma estrutural incapacidade de colocar no mercado sequer, pelo menos alguns dos seus membros, como é o caso de Angola, a quantia inerente à sua quota.

Alias, naquilo que é um cenário de feição para a economia angolana, só o está a ser em parte porque o País não está sequer a conseguir garantir a sua quota estabelecida no seio da OPEP+, estando mesmo a ver fugir por entre as mãos esta oportunidade.

Isto, porque Angola está com uma produção inferior a 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), longe dos 1,8 mbpd de há cerca de uma década, o que é um revés não-negligenciável para o Executivo de João Lourenço, que se vê, assim, impedido de tirar todo o proveito desta alta nos mercados petrolíferos.

Isto, porque o crude ainda representa cerca de 95% das exportações globais nacionais, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos gastos com as despesas do Estado, sendo, como tem sido sempre, o pilar onde o País assenta os seus períodos de maior florescimento económico, o que deveria estar já a suceder se a produção se mantivesse semelhante ao que era em 2008, por exemplo.

E, se seria de esperar, por exemplo, como seria ainda há duas décadas, que, face a este contexto de forte recuperação esperada para a economia mundial, as majors já estivessem a investir forte na pesquisa e no reforço da produção dos campos de possuem com esse potencial, em Angola e noutras latitudes, a verdade é que isso não deverá já suceder porque é cada vez maior a pressão popular sobre os governos para demoverem esse caminho face à urgência da reduzir as emissões de gases poluentes para garantir uma transição energética de forma a amansar as alterações climáticas.

É disso exemplo os EUA, onde o Presidente Joe Biden encabeça um movimento global para pressionar a OPEP+ a aumentar a sua produção de forma a não hipotecar a recuperação da economia planetária, mas que se abstém de apostar na produção interna, com largo potencial no fracking, pelo menos, devido à sua política clara de mitigação das emissões poluentes com base na queima de hidrocarbonetos.

E é esta, por exemplo, uma das razões pelas quais, a JP Morgan é ainda mais pessimista (ou optimista, depende do ponto de vista inicial, se de um exportador se de um país comprador) que a Goldman Sachs, apostando nos 125 USD por barril em menos de seis meses se a OPEP+ não conseguir ou quiser amentar a sua capacidade global de colocação de petróleo nos mercados.

E o mesmo entendimento tem a Agência Internacional de Energia, que já divulgou um relatório onde estima que a OPEP poderá ver a sua capacidade extra de colocar mais crude no mercado, em 30 dias, para menos de metade da actual, ou seja, inferior a 2,6 mbpd, o que, a manter-se, estima a AIE, 2022 vai ser um ano de "grande volatilidade" e crescente valorização se se mantiver a crescente procura, a diminuição dos stocks e não for invertida a tendência, como parece ser um facto, de aumento da capacidade extra de abastecer o mercado.

Questões como a inflação nas grandes economias, o aumento das taxas de juros, factos em curso nos EUA, por exemplo, indefinição nas políticas monetárias pelos bancos centrais, mas tendencialmente cada vez mais restritivas, em confronto com Europa, EUA, China, Índia e Japão, com menos reservas dia após dia, com os produtores/exportadores a mostrarem incapacidades bizarras de aumentar a produção, e com a economia mundial pós-pandemia a querer dar o salto do Ipiranga, o que está ao virar da esquina pode bem ser uma montanha russa nos gráficos do Brent e do WTI.

Mas, para já, e quando se espera que a OPEP+ volte a reunir nos próximos dias para realinhar a sua estratégia, o que parece já ser um dado adquirido que não seria razão para sobressaltros nas casas de aposta, é que o barril vai estra nos 100 USD em três a quatro meses, ou mesmo em menos tempo. Se não houver um "cisne negro" ao virar da esquina pandémica, com uma reviravolta genética no Sars CoV-2...