Não há nada que indique que esta decisão da OPEP+, que junta a Rússia e mais dez países produtores/exportadores à OPEP, tenha sustentabilidade no tempo, mas, para já, os sempre nervosos mercados, reagiram como se esperava: na dúvida, aumenta o preço.

Esta decisão é uma medida de recurso do "cartel" liderado por sauditas e russos, face à perda progressiva mas sólida de valor da matéria-prima nas últimas semanas, ameaçada que está pelo risco do excesso de produção.

E a medida teve anda mais impacto porque a OPEP+ condicionou a sua recuperação às condições do mercado.

Excesso esse que está previso pela AIE há já algum tempo e que resulta quase inteiramente da redução no consumo da China, na entrada no mercado de produtores novos, como a gigantesca pequena Guina na América do Sul, mas um equilíbrio sempre ameaçado pelas incertezas que chegam do Médio Oriente.

E tudo porque na China está efectivamente a ocorrer uma transformação, aparentemente, sem dar muito nas vistas, das energias fosseis para as limpas, além de que isso também começa a ganhar tracção noutras latitudes, da Europa aos EUA, passando mesmo para os gigantes asiáticos como o Japão...

Este cenário já se admitia que poderia levar mesmo a fazer a OPEP+ reverter os seus planos de fade out dos cortes estratégicos na produção de forma a controlar os preços em alta, podendo não apenas reduzir a margem que seria mantida como manter tudo como está...

A OPEP+ mantém actualmente cortes na ordem dos 5,6 mbpd, representando mais de 55% da produção global enxugada artificialmente, incluindo os 3,6 mbpd divididos pelos membros e 2,2 mbpd cortados voluntariamente por sauditas e russos.

Vale a pena, porém, lembrar que as crises em curso no Médio Oriente, esta principalmente, sendo mesmo a razão principal para os ganhos mais recentes, mas também na Península Coreana, em Taiwan ou mesmo nalgumas regiões de África, podem conduzir a uma alteração radical nas perspectivas mais razoáveis.

Com estes dados em cima da mesa, o barril de Brent, que é o que interessa a Angola, está esta segunda-feira, 04, a subir 3%, cerca das 12:50, hora de Luanda, para os 75, 23 USD.

Para as contas de Angola...

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário pode indiciar um futuro difícil.

Mas, para já, ter o Brent quase nos 75 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, mantém a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes alimentam algum optimismo que pode ser ainda mais robusto se o país aumentar a produção o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.