As tensões no Médio Oriente, que cresceram com a faísca provocada pelos ataques do Hamas de 07 de Outubro ao sul de Israel (ver links em baixo nesta página), apesar do risco deste a primeira hora de alastramento regional do conflito de Gaza, não estavam a ter o impacto que seria de esperar nos mercados petrolíferos. Até agora...
Depois de vários episódios no Mar Vermelho, no estreito de acesso ao Canal do Suez, onde cargueiros e petroleiros foram atacados, através de misseis e drones, ou de abordagens por embarcações ou helicópteros, dos rebeldes Houthis, do Iémen, apoiados pelo Irão, também do outro lado da Península Arábica, no Golfo de Oman, a navegação marítima começou a ser atingida, o que veio dar uma nova frente de preocupações sobre o fluxo de petróleo para as economias mundiais.
Se no Mar Vermelho, a questão é o acesso ao Canal do Suez, no Egipto, que liga o Mar Mediterrâneo ao Oceano Índico, por onde passam perto de 20 por cento do comércio marítimo mundial e 15% do petróleo consumido no ocidente, no Golfo de Oman, em causa está a saída de quase 30% do crude produzido em todo o mundo, bordejado que é este braço de mar pela Arábia Saudita, Irão, Iraque, EAU...
Tendo esta vasta região marítima igualmente uma ligação estreita com as costas paquistanesa e indiana, o que lhe confere uma importância económica estratégica de relevância global...
Com embarcações a serem atacadas quase diariamente no Mar Vermelho pelos Houthis, e no Golfo de Oman por unidades militarizadas, provavelmente, afectas ou dependentes do Irão, finalmente os mercados petrolíferos estão a acordar para aquela que pode ser uma crise severa com uma obstrução ao fluxo regular da matéria-prima para os mercados mundiais.
Até então, naquilo que parecia para alguns analistas, uma bizarra ausência de reacção face ao crescendo do problema na Faixa de Gaza e do crescente envolvimento do Hezbollah, no sul do Líbano, com uma forte possibilidade de expansão do conflito para o barril de crude gigantesco que é o Médio Oriente, parecia ser resultado de algum "desconto" na gravidade da situação, especialmente depois de os EUA terem encabeçado uma armada internacional para escoltar navios nas costas do Iémen.
E com cada vez mais companhias a optarem por navegar pelo sul de África em vez do Canal do Suez, devido a questão de segurança, o que aumenta substantivamente o preço do crude e das mercadorias diversas, é de esperar, segundo vários especialistas, que os preços, de uma forma geral, comecem a aumentar de forma acelerada.
O último ataque teve como alvo um petroleiro, o St Nikolas, com uma carga de crude iraquiano, e foi abordado por indivíduos com uniformes militares e mascarados, e dirigia-se para um porto na Turquia.
Face a este cenário, o barril de Brent, que serve de referência principal para as ramas exportadas por Angola, estava, perto das 15:25, hora de Luanda, a subir mais de 1,8 por cento, para os 78,56 USD, nos contratos relativos a este mês de Janeiro.
Para Angola, as contas são estas...
Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 78 USD não permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária, mas, ainda assim, dentro do valor com que foi elaborado o OGE 2024.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.