Depois de no fim-de-semana a OPEP+, organismo que agrega os 14 Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e mais um grupo de 10 produtores independentes, com a Rússia à frente, ter acordado no corte de 10% da produção mundial, cerca de 10 milhões de barris por dia (mbpd), para impulsionar o valor do barril, que estava em valores recorde em baixa, esperava-se que os mercados premiassem esse esforço com um aumento do preço do barril.

Mas os números não enganam e a economia não perdoa. Os 10 mbpd tirados à oferta são uma gota no oceano daquilo que a crise tirou à procura, que, no pior dos cenários, em Abril chegará aos 30 milhões de barris diariamente enxugados daquilo que a economia planetária estava habituada a queimar, que rondava antes da pandemia os 95 mbps, com a meta dos 100 mbps alcançada ao longo dos melhores períodos dos últimos anos.

Com o passar dos dias, os mercados foram digerindo as diferenças entre os cortes da OPEP+ e o que efectivamente saiu da procura e o resultado é este, uma queda de 5% no valor do Brent, em Londres - estava nos 4,29% perto das 14:00 de hoje, nos 28,18 USD - e nos 3,09% de queda no WTI de Nova Iorque, para os historicamente baixos 19, 49 USD por barril.

A Agência Internacional de Energia (AIE), normalmente com números mais conservadores que os analistas das grandes casas financeiras, como a Goldman Sachs, divulgou uma nota onde estima que para este mês, a quebra na procura chegue aos 29 mbpd, o que a Reuters recorda serem números que já não se viam há mais de 25 anos.

Mas o mais grave nesta declaração da AIE é que não há possibilidade de a OPEP+ vir a cortar a produção em valores que possam influenciar decisivamente o valor do crude, porque, por exemplo, os 30 mbpd em questão são uma quantidade igual à produção total dos três maiores produtores do mundo, os EUA, que estão a apoiar este esforço, a Arábia Saudita e a Rússia, uma quantidade irrealizável nas actuais circunstâncias.

Apesar de tudo, a AIE, no seu relatório mensal, nota que o corte de 10 mbpd é um "promissor arranque" para aquilo que vai ter de ser feito no futuro, embora, como alguns analistas já admitiram, o melhor investimento que a OPEP+ poderá fazer é criar um fundo sem limite de gastos para a produção de uma vacina eficaz e rapidamente que permita acabar com a pandemia, porque a recuperação da economia global, da qual o crude depende, está condicionada pelo novo coronavírus, como o FMI sublinha no seu último World Economic Outlook