O "Cartel", que desde 2017 junta os 13 países exportadores (OPEP) e 10 desalinhados encabeçados pela Rússia, respondeu assim às perdas avultados no valor do crude das últimas semanas, o que é uma quebra acentuada na regra até aqui vigente de aumentos mensais controlados mas progressivos da produção diária.

Apesar de a Rússia não estar alinhado com esta decisão, a OPEP+ vai mesmo reduzir a produção agregada em 100 mil barris por dia, o que, em suma, se traduz pelo regresso da produção aos valores de Agosto, depois de na reunião mensal desse mês, o "Cartel" ter avançado com um aumento da produção para Setembro nesse mesmo valor.

Sem a Rússia, que é, a par da Arábia Saudita, o maior poder de "fogo" da OPEP+, o esforço de redução vai incidir ligeiramente mais nos restantes 22 membros, embora isso possa ser considerado como efeito colateral mínimo desta decisão colegial tomada na reunião de hoje, 5ª feira, 05 de Setembro.

A Rússia fica de fora deste passo porque, segundo fontes citadas pelas agências, isso levaria a que a sua produção ficasse aquém dos contratos que tem com países asiáticos, nomeadamente China e Índia, para onde desviou a grande parte da sua produção cortada pelas sanções europeias devido à invasão da Ucrânia por Moscovo a 24 de Fevereiro.

Com esta opção, a OPEP+ procura deixar claro que o mundo não vai ficar numa situação de ter mais oferta que procura de crude.

Apesar de reduzido impacto previsível, este movimento da OPEP+ levou a uma subida importante no valor do barril de Brent, que serve de referência às exportações angolanas, deixando, nos contratos para Outubro, a medida valer 96,46 USD, mais 3,7% que no fecho da sessão de sexta-feira. A subida no WTI de Nova Iorque seguiu o mesmo padrão referencial para os 90,08 USD, mais 3,54%perto das 14:30, hora de Luanda.

No entanto, como avançam as agências, esta redução da produção deverá ter um impacto mínimo ou nulo considerando que a OPEP estima que os seus membros vão manter-se incapazes de cumprir as suas quotas de produção, ficando quase 3 milhões de barris por dia abaixo da soma do compromisso colectivo.

Depois da reunião de hoje, o "cartel" deverá reunir de novo em breve para abraçar medidas complementares.

Não se sabe qual a posição de Angola, como é habitual, sobre esta situação em que os membros da OPEP são chamados a responder em conjunto face aos "ataques" aos mercados para reduzir os preços do barril, como são disso exemplo a decisão tomada há meses pelos EUA e seus aliados mais próximos de inundar os mercados com parte das suas reservas estratégicas para esmagar os preços.

Mas sabe-se que Angola é dos países mais afectados.

Em pano de fundo a este complexo "jogo de póquer", com todos a quererem fazer de conta que as cartas pequenas que têm na mão são "ases", está a exigência ocidental de esmagar os preços da energia porque é este sector que mais contribui para a inflamada inflação que corrói as economias ocidentais e ameaça com uma recessão no horizonte que pode conduzir a uma tempestade de desemprego, a receita quase certa para um aumento dos protestos populares e com maiores consequências político-eleitorais, que é o que mais assusta as democracias ocidentais.

Alguns países estão mais atentos que outros a estas movimentações, como aqueles que mais dependem das exportações de crude.

E Angola está claramente na linha da frente desta atenta plateia do "grand jeu" petrolífero entre o ocidente e a Rússia, porque o crude ainda responde por 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e cerca de 60% das suas receitas fiscais que garantem a "lubrificação" do funcionamento do Estado.