A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) divulgou esta semana, pela voz do seu secretário-geral, que viu no seu "oráculo" um futuro fortemente auspicioso para o sector petrolífero, apontando para um vigoroso crescimento da procura até 2045.
Segundo os dados avançados por Haitham Al Ghais, a procura pela matéria-prima, contrariando todos os cenários mais optimistas das organizações internacionais ambientais, devido ao iminente colapso do planeta devido às alterações climáticas, vai crescer 23%, para os 110 milhões de barris por dia (mbpd) nas próximas duas décadas.
Como pão para a boca das economias petrodependentes, como é a angolana, Al Ghais acrescentou, no arranque da Conferência Asiática para a Energia, que o petróleo "é insubstituível" como a energia das próximas décadas, como surge em destaque no Outlook da OPEP para o consumo mundial.
Pesando os prós e os contras, a sentença dos mercados e clara... o barril de Brent, face a este cenário global, só valia esta terça-feira, 27, perto das 14:30, hora de Luanda, 73,79 USD menos 0,71% que no fecho da última sessão.
Recorde-se que actualmente o mundo consome cerca de 102 mbpd, depois de uma forte recuperação observada a partir do fim da pandemia e depois de meses duros no início de 2022 devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.
Porém, é no presente que as dores custam mais a aguentar e, como se está a sentir em Angola de forma mais evidente, o barril tem vindo a reduzir o seu valor, tanto no Brent como no WTI (Nova Iorque), mantendo uma irritante consistência abaixo dos 75 USD, com largos períodos pouco acima dos 72 USD, desde 22 de Julho, o que coloca de novo em cima da mesa a necessidade de revisão do OGE deste ano.
As razões para estas quebras no vigor dos mercados são diversas e têm como pano de fundo os dados mais fracos vindos da economia chinesa, os estilhaços da guerra na Ucrânia, o incumprimento das quotas assumidas em compromisso pelos membros mais proeminentes da OPEP+, como a Rússia, que só agora começa a reduzir a sua produção como estava estabelecido, ou o risco inflacionista e de uma recessão nos EUA e na Europa ocidental.
Mas, no imediato, é a quebra no consumo de gasolina e as sucessivas revisões em alta dos stocks deste combustível nos EUA, o que denota uma menor predisposição para as férias longas na maior economia mundial, e expõe sintomas de crise económica, que está a inquietar os mercados e os analistas.
Mas os anúncios repetidos, tanto pelo Banco Central Europeu, como pela FED norte-americana, de que os aumentos das taxas de juro ainda não chegaram ao fim do caminho, está a alimentar a chama da incerteza e a perigar o consumo porque esse instrumento, usado para combater a inflação, induz a uma fragilização dos dados do consumo.
E se BCE e FED entendem que ainda é cedo para travar o ataque à inflação através da mecânica das taxas de juro directoras, então, como é fácil de entender, isso quer dizer que se mantém a desconfiança na capacidade regeneradora da economia global, o que não é bom sinal para os fornecedores do combustível que lhe da energia...
Contas angolanas
Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent abaixo dos 75 USD é um dado melindroso e começa a ser clara a ligação entre esta realidade e a crise severa de inflação e cambial que o país atravessa, onde, por exemplo, um euro nunca valeu tantos kwanzas como agora, mais de 886 Kz e o dólar mais de 810 Kz.
Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante negativas porque o sector petrolífero deixa de gerar o superavit que serve ao Governo para investir além do básico. E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser graves, devido ao papel insubstituível, para já, no PIB.
O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.