O barril de Brent, que interessa especialmente a Angola, o que dá para perceber a relevância destes factores, esteve em perda acentuada toda esta semana, caindo de quase 90 USD na segunda-feira, 29, para uns desconfortáveis 83 no arranque da sessão desta quinta-feira, 02.

Essa queda coincidiu com as fortes expectativas de um acordo de cessar-fogo entre o Hamas e Israel, que já era dado quase como certo pelos media internacionais, mas que, no final do dia de ontem, 01 de Maio, se percebeu que eram desmesuradas.

Não só ficou mais longe um acordo que ponha fim às hostilidades em Gaza e, concomitantemente, aos ataques dos rebeldes Houthis no Mar Vermelho aos petroleiros que seguem para e chegam do Canal do Suez, como, ao que tudo indica, este se pode agravar depois do primeiro-ministro israelita ter afirmado que nenhum acordo travará o avanço israelita sobre a cidade-refúgio de Rafah (ver links em baixo nesta página).

E com este update desastroso das negociações que decorrem no Cairo, Egipto, o alastramento do conflito pelo Médio Oriente, onde é produzido 35% do crude consumido no mundo, ganha nova tracção, aumento o risco de disrupções no fornecimento dos mercados, sendo claro já esse impacto na evolução mais recente dos preços da matéria-prima.

Por outro lado, nos EUA, o maior consumidor de petróleo do mundo, e a maior economia global, a Administração Biden tem optado pela injecção de milhões de barris das suas reservas estratégicas nos mercados para baixar os preços, especialmente neste tempo de campanha eleitoral.

É que o preço dos combustíveis é, nos EUA, um dos factores que mais leva os eleitores a definir as suas escolhas, e, com o petróleo em valores acima dos 90, ou mesmo 80 USD, as possibilidades de reeleição de Joe Biden reduzem-se, até porque as sondagens já não são simpáticas para os democratas, dando vantagem ao antigo Presidente Donald Trump.

E foi tanto assim que as reservas estratégicas norte-americanas chegaram a um nível que os especialistas consideram perigoso, porque deixa o país, que é o maior consumidor do mundo, embora seja igualmente o maior produtor, vulnerável a uma possível crise petrolífera.

Ou seja, mesmo não querendo, porque isso é contrário aos seus interesses eleitorais, Biden deverá ordenar o restabelecimento dos níveis seguros das reservas estratégicas, impondo-se os interesses do país, o que deve, a breve trecho, forçar uma subida do valor do barril.

Face a este tremido cenário global, o barril mostra-se esta quinta-feira com melhores cores, no verde, subindo, perto das 11:20, hora de Luanda, 0,84%, para os 84,11 USD, um valor simpático para as contas angolanas mas bastante menos que os 90 de ainda há alguns dias.

E isto é substantivamente importante para Angola porque...

... porque, apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica.

E ter o Brent nos 84 USD, bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, permite diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.