Com os cerca de 200 misseis disparados, incluindo balísticos e hipersónicos, com os quais trespassou as até agora quase inexpugnáveis defesas antiaéreas israelitas, o Irão expos uma fragilidade que o mundo pensa anã existir em Israel.
E com isso, quase obrigou Israel e ripostar com igual ou superior amplitude de forma a limpar este "cadastro" de fragilidades mostradas pelas imagens das televisões internacionais com dezenas de projecteis iranianos a atingiram o solo israelita.
O que, tudo somado, dá a fórmula perfeita para uma guerra aberta entre iranianos e israelitas, o que, a suceder, como os mercados petrolíferos bem sabem, levaria de imediato a um bloqueio alargado do fornecimento de quase 40% do crude consumido no mundo.
O que justifica plenamente que, ao final da manhã desta quarta-feira, 02, o barril de Brent, que serve de referência maior para as ramas exportadas por Angola, tenha atingido os 75,95 USD, uma subida abrupta de 3,4%.
A alicerçar esta "combustão" nos mercados está o facto de, como, de resto, é evidenciado pelas agências internacionais, Israel ter feito uma ameaça robusta de punição de Irão pela ousadia mostrada com este ataque enquanto em Teerão se ameaça Israel com ataques ainda mais robustos em caso de choverem misseis ou drones israelitas em território iraniano.
Enquanto, por exemplo, uma guerra aberta levaria ao quase certo fecho do Estreito de Ormuz, que fecharia o Golfo Pérsico, e ainda a entrada no Mar Vermelho para o Canal do Suez pelos Houthis iemenitas, no Irão um dos alvos potenciais de Israel podem ser as infra-estruturas petrolíferas do Irão... que tem ma produção actual de 3,7 mbpd.
Além disso, a complexificar ainda mais este cenário flamejante no Médio Oriente, nas últimas horas foi bastamente noticiado que Israel lançou uma operação terrestre no sul do Líbano, depois de uma semana de intensos bombardeamentos daquele bastião do Hezbollah (ver links em baixo).
Se algum destes cenários, em resultados dos golpes e contra-golpes iraniano-israelitas ocorer de facto, daí emergirá uma gigantesca crise petrolífera, levando o barril a atingir valores recorde em escassas horas.
Entretanto, segundo a Reuters, a acomodar algum dos riscos, e caso de disrupção no petróleo iraniano, facilmente sauditas ou russos podem completar esse buraco na oferta, o que também aumenta o risco de o crude saudita pode passar, por isso, a estar na mira do Irão ou dos seus proxys, como os Houthis.
Neste contexto ocrre ainda esta quarta-feira uma reunião da OPEP+, onde se crê, segundo alguns analistas, que o cartel venha a cumprir com a promessa de aumentar ligeiramente a produção que pode chegar, segundo a Reuters, aos 180 mil bpd, o que pode ser uma rede de segurança, embora limitada, para eventuais perturbações decorrentes do conflito israelo-iraniano.
Mas fontes sauditas notam que o controlo sobre a produção e as quotas dos membros da OPEP+ deve ser aplicada com mais rigor porque, caso contrário, aumentando a produção, o barril pode dar um tombo para as casa dos 50 USD em pouco tempo.
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário no Médio Oriente pode indicar um acréscimo bem-vindo nas receitas petrolíferas.
Mas, para já, ter o Brent nos 75 USD, claramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, eleva substancialmente a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes alimentam algum optimismo que pode ser ainda mais robusto se o país aumentar a produção o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.