A manhã de quinta-feira começou quente nos mercados internacionais, com o barril de Brent a chegar aos 86,06 USD logo no início da sessão, o que fazia adivinhar outro dia histórico para as economias que mais dependem da exportação de crude, como a angolana, mas os investidores menos propensos ao risco deram início à tomada de mais-valias e isso levou a um arrefecimento dos gráficos que ao segundo medem a temperatura ao negócio do petróleo, voltando o barril à casa dos 85, onde se manteve ao longo do dia de quinta-feira.

Esta tomada de mais-valias não é, no entanto, como se apressaram a dizer os analistas de mercados citados por agências e sites especializados, uma má notícia, porque os fundamentais da subida de mais de 60% no barril de Brent desde o início do ano - com valores semelhantes no WTI, de Nova Iorque - não foram alterados em nada, como sejam o défice de oferta face à procura que emergiu com o fade out da crise pandémica que no início de 2020 atirou o mundo para o seu maior drama económico desde o crash bolsista de 1929.

A par do défice na oferta de crude, que resulta em grande medida da insistência da OPEP+., organização de junta, desde 2017, a OPEP e 10 países "desalinhados" na procura de um equilíbrio dos mercados, o mundo está a debater-se igualmente com preços astronómicos no gás natural e no carvão, o que mudou o "chip" de algumas economias destes combustíveis para os derivados directos do petróleo, acrescentando peso à procura actual.

A isto soma-se ainda a chegada do Inverno ao Hemisfério Norte, com forte pressõa consumista de energia na Europa - o elevado preço da energia está a colocar mesmo em causa a recuperação económica da União Europeia -, e uma sucessão de dados referentes ao consumo de combustíveis nos EUA, a maior economia do mundo e o maior consumidor de crude planetário, com a diminuição dos stocks em gasolina, fuel e mesmo petróleo em bruto como já não sucedia há quatro anos.

É sobre este cenário que os analistas estão a apostar na subida do valor do barril nos próximos meses, e mesmo ao longo de 2022, até porque ao fundamentais que suportam este "bom" momento do sector, está ainda o mais abrangente registo histórico de um défice de investimento na pesquisa, pelo menos desde 2014, que gerou uma situação de facto pouco animadora para o futuro do lado da produção, como é disso exemplo Angola cuja produção diária está em forte declínio a ponto de se encontrar actualmente abaixo dos 1,2 milhões de barris por dia (mbdp) e sem perspectivas de aumentar no breve prazo.

O lado bom desta moeda fraca é que os preços estão a tapar o buraco gerado pela baixa na produção e os sinais que surgem dos mercados e dos seus mais respeitados analistas é que o mercado da oferta e da procura de petróleo não está ainda próximo do equilíbrio e os preços vão, por isso, manter este ímpeto de subida.

Até porque, pelo que se pode depreender dos resultados das reuniões mensais dos técnicos e dos ministros da Energia e Petróleo da OPEP e OPEP+, este "cartel", alargado agora à Rússia e outros exportadores importantes, não parece ter grande interesse em inundar o mercado de barris baratos, como os EUA estão a exigir, mantendo claramente o azimute na manutenção de um espaço considerável entre o que o mundo precisa e o que lhe é dado em hidrocarbonetos.

E, ao que se sabe, e é possível observar, mesmo que a OPEP+ quisesse acrescer produção, isso não seria evidente porque alguns dos seus membros estão simplesmente incapazes de o fazer devido à deterioração provocada por anos a fio de desinvestimento, novamente Angola como exemplo disso mesmo, mas também a Nigéria, e mesmo a Arábia Saudita teria de fazer um esforço extraordinário para elevar de tal modo a produção para diluir a diferença para a procura.

Ou seja, o petróleo tem ainda um vasto potencial de crescimento no seu valor, como o demonstra a situação dos stocks actuais em todo o mundo, que caíram para níveis de há largos anos antes do surgimento da Covid-19, o que levou a que o gás natural e o carvão valorizassem desmedidamente, o que provocou nova corrida ao petróleo, num efeito de gato a correr para chegar ao seu próprio rabo.

Mas há mais: a transição energética encetada um pouco por todo o mundo está a levar alguns países, como a China o demonstrou recentemente onde falhas de energia levaram à paragem de vastas regiões industriais porque Pequim está fortemente pressionado para diminuir os níveis de produção de gases poluentes, grande parte destes proveniente da queima de combustíveis fósseis.

E com o aproximar da Cimeira do Clima de Glasgow, a COP26, em Novembro, onde se esperam passos decisivos para a descarbonização do planeta económico, e que sejam, mas sem certezas, avançadas medidas pesadas para garantir que o mundo não aquece além do tolerável - face a ameaças de colapso global -, os investimentos em pesquisa por novas jazidas de crude, na construção de infra-estruturas, etc serão ainda mais malvistos, sendo que alguns dos grandes bancos mundiais já anunciaram o fim dos investimentos e ou crédito ao sector petrolífero.

Isso tudo, face à melhoria evidente dos índices económicos em todo o mundo no rescaldo da pandemia que, naturalmente, leva a uma maior procura por energia que ainda não tem resposta no universo das renováveis devido à inigualável densidade energética do petróleo... por exemplo, ainda não existe tecnologia que permita manter um grande avião no ar com energia eléctrica ou outra, ou puxar um porta-contentores através dos mares com outra energia que não a proporcionada por derivados do crude.

OPEP com "boas" perspectivas para 2022

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) tem vindo a aumentar a perspectiva para a procura de crude ao longo de 2022, colocando a fasquia acima dos 100 milhões de barris por dia (mbpd), valor de 2019, ainda sem o efeito da pandemia, apesar de algum sobe e desce circunstancial.

Nos seus relatório mensais o "cartel" aponta para uma sólida recuperação da economia mundial e, com isso, justifica a perspectiva.

Recorde-se que a OPEP+ mantém em curso um programa de retoma da produção na casa dos 400 mil barris por dia, que deve manter-se até 31 de Dezembro deste ano, mensalmente, tendo vindo a aumentar sucessivamente os números depois de em 2020, especialmente nos meses mais duros da pandemia, terem sido enxugados uns gigantescos 10 milhões de barris por dia da produção global, que estava na casa dos 100 mbpd e chegou a bater nos 89 mbpd.

O deve e o haver angolano

Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 30% do PIB, este cenário de recuperação, apesar de tudo, permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.

A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.

Para já, com o barril acima dos 85 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 47 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.

Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".