As palavras de Vladimir Putin, na terça-feira, sobre as crescentes dificuldades em encontrar uma base sólida para assentar a paz na Ucrânia, falando mesmo num impasse, ou beco sem saída, provocaram novo nervosismo nos mercados.

Isto, porque a Rússia é o 2º maior exportador de crude do mundo e o 3º maior produtor, o que faz com que todos pormenores contem, sendo que se trata aqui de uma possibilidade real de disrupções graves na oferta se as sanções ocidentais evoluírem para o petróleo e o gás, como, aparentemente, está em cima da mesa dos países europeus, depois de os EUA já terem dado esse passo.

A negociar acima dos 106 USD, o barril de Brent parece querer voltar a afastar-se da fasquia dos 100 dólares que atingiu, e dela desceu, nos últimos dias, quando se previa um futuro mais risonho para as negociações de paz no conflito do leste europeu, que não deverão conhecer avanços em breve depois das palavras de Putin e depois do Presidente dos EUA ter subido a fasquia e estar agora a falar em "genocídio" perpetrado pelos russos na Ucrânia.

O barril de Brent, contratos para Junho, estava hoje, perto das 11:40, hora de Luanda, a negociar a 106,52 USD, mais 1,76% que no fecho de terça-feira.

Mas a subida registada já a meio da tarde de terça-feira e hoje está a ser travada, segundo os analistas, com dados pouco animadores das economias da China e do Japão, cujos sectores exportadores estão a perder "gás" porque estão a sofrer o impacto negativo do misto de consequências da guerra na Ucrânia e do regresso do confinamento por causa da Covid-19, que na China manteve 27 milhões de pessoas fechadas apenas na cidade de Xangai.

As instituições financeiras internacionais estão, na generalidade, a avançar com dados comprometedores para este ano, com recuos substantivos nas projecções de crescimento global, com aumentos muito além do esperado na inflação e quedas abruptas no volume de negócios das grandes multinacionais, além das falhas acentuadas que se começa a verificar na distribuição de bens alimentares em todo o mundo, mas com acentuada gravidade nos países mais pobres, com a fome a manifestar-se já com severidade em vários países africanos, que eram fornecidos pelos cereais provenientes do "celeiro do mundo" que são a Ucrânia e a Rússia.

Também a OPEP estima agora um menor crescimento da procura para 2022 - menos 480 mil barris por dia que o estimado, descendo para os 3,67 milhões - embora tenha advertido que o mundo não terá capacidade de substituir a Rússia no fornecimento global, enquanto a Agência Internacional de Energia estima que em Abril cheguem menos 1,5 milhões de barris por dia da Rússia aos mercados, que em média supera, normalmente, os 8,5 milhões, enquanto para Maio essa quebra deve chegar aos 3 milhões de barris por dia.

Contexto da guerra na Ucrânia

A 24 de Fevereiro as forças russas iniciaram a invasão da Ucrânia por vários pontos, tendo o Presidente russo dito que se tratava de uma "operação especial", sublinhando que o objectivo não é a ocupação do país vizinho mas sim a sua desmilitarização e assegurar que Kiev não insiste na adesão à NATO, o que Moscovo considera parte das suas garantias vitais de segurança nacional, criticando fortemente o avanço desta organização de defesa para junto das suas fronteiras, agregando os antigos membros do Pacto de Varsóvia, organização que também colapsou com a extinção da URSS, em 1991.

Moscovo visa ainda garantir o reconhecimento de Kiev da soberania russa da Península da Crimeia, invadida e integrada na Rússia, depois de um referendo, em 2014, e ainda a independência das duas repúblicas do Donbass, a de Donetsk e de Lugansk, de maioria russófila, que o Kremlin já reconheceu em Fevereiro.

Do lado ucraniano, a visão é totalmente distinta e Putin é acusado de estar a querer reintegrar a Ucrânia na Rússia como forma de reconstruir o "império soviético", que se desmoronou em 1991, com o colapso da União Soviética.

Kiev insiste que a Ucrânia é una e indivisível e que não haverá cedências territoriais como forma de acordar a paz com Moscovo.

Esta guerra na Ucrânia contou com a condenação generalizada da comunidade internacional, tendo a União Europeia e a NATO assumido a linha da frente da contestação à "operação especial" de Putin, que se materializou através de bombardeamentos das principais cidades, por meio de ataques aéreos, lançamento de misseis de cruzeiro e artilharia pesada, e com volumosas colunas militares a cercarem os grandes centros urbanos do país.

Na reacção, além da resistência ucraniana, Moscovo contou com o maior pacote de sanções aplicadas a um país, que está a causar danos avultados à sua economia, sendo disso exemplo a queda da sua moeda nacional, o rublo, que chegou a ser superior a 60%, embora já tenha, entretanto, recuperado.

Estas sanções, que já levaram as grandes marcas mundiais a deixar a Rússia, como as 850 lojas da McDonalds, a mais simbólica, abrangem ainda os seus desportistas, artistas, homens de negócios, a banca e grande parte das suas exportações, ficando apenas der fora o sector energético, gás natural e petróleo...

Milhares de mortos e feridos e mais de 4 milhões de refugiados nos países vizinhos da Ucrânia são a parte visível deste desastre humanitário.