Sabe-se que se a economia chinesa tropeça, a do mundo está em risco de cair, e que se a capital do gigante asiático voltou a fazer testes em massa ao Sars CoV-2 nos seus mais de 22 milhões de habitantes, então a economia mundial está em risco de dar um trambolhão e os mercados petrolíferos são os primeiros a pressentir o risco.

Isso mesmo está por estes dias visível no Brent, de Londres, e no WTI, em Nova Iorque, com quedas acentuadas, chegando mesmo a passar em baixa a fasquia dos 100 USD, na segunda-feira, embora já hoje, terça-feira, tenha recuperado ligeiramente, valendo 102,10 USD perto das 11:30, hora de Luanda, enquanto do outro lado do Atlântico, o barril valia, à mesma hora, 98,12 USD.

Com ameaças à procura provenientes da China, depois de mais de um mês de confinamento em Xangai, com 27 milhões de pessoas em casa, e agora sob risco de o mesmo suceder em Pequim, a 22 milhões, os mercados temem claramente problemas do lado da procura, reagindo, como sempre, com uma desvalorização que reforça a sua posição em torno dos 100 USD, muito longe dos 139 que alcançou em Março devido ao eclodir da guerra na Ucrânia e as sanções subsequentes à Rússia, o invasor, considerando que se trata de um dos maiores produtores de gás e de petróleo do mundo.

Com esta desvitalização da matéria-prima nos mercados, cuja justificação vai ainda aportar à Líbia, onde o conflito interno levou ao fecho de um dos principais portos de embarque de crude, tirando perto de um milhões de barris diariamente dos mercados ao longo das últimas semanas, Angola é um dos países mais prejudicados no sentido em que foi dos mais beneficiados com a alta sentida nos últimos meses, especialmente devido à diminuição da gravidade da pandemia e depois com o conflito no leste europeu.

Isso mesmo veio dizer na segunda-feira a consultora Fitch Solutions, que considerou Angola como um dos países mais beneficiados com a subida dos preços do petróleo desde o princípio do ano, especialmente pelo impacto que teve na valorização da moeda nacional, que este ano ainda deve subir mais perto de 23 por cento.

As subidas e as descidas do petróleo nos mercados é fundamental, especialmente do Brent, a principal referência para estimar o valor médio das ramas exportadas por Angola, porque este ainda representa 95% do total das suas exportações, mais de 35% do PIB e quase 60% das despesas diárias de funcionamento do Estado.

Recorde-se que aquilo que faz bem à economia angolana, faz mal à economia das grandes economias importadoras de crude, o que levou, em Março, os EUA e os seus aliados europeus, além do Japão e Coreia do Sul, a anunciarem o recurso às suas reservas estratégicas para controlar os preços, com os só os EUA a injectarem um milhão de barris por dia ao longo de seis meses.

Face a este cenário, a OPEP+, organização que agrega desde 2017 os 13 membros da OPEP e mais 10 não-alinhados, incluindo a Rússia, terá de, na sua reunião prevista para o início do mês de Maio, rever os termos do actual acordo de produção, podendo, segundo os analistas, se a matéria-prima continuar fragilizada nos mercados, adiar o esperado aumento da produção, que está actualmente nos 400 mil barris/dia, por mês, desde Julho de 2021.

Tudo, porque a libertação das reservas estratégicas dos países ocidentais e a esperada redução dos volumes importados pela China, estão a reduzir a marfem entre a oferta e a procura, sendo que, sempre que estas se aproximam do equilíbrio, o barril de crude inicia fortes descidas nos mercados.