Esta indústria alternativa no sector petrolífero foi responsável pela auto-suficiência energética dos Estados Unidos, permitindo mesmo que chegasse à condição de maior produtor mundial a partir de 2017, mas é igualmente uma das grandes razões para a diminuição do valor do barril nos mercados internacionais ao provocar a diminuição do espaço entre a oferta e a procura global pela matéria-prima, fazendo deste país, o maior consumidor de crude em todo o mundo, um exportador líquido de energia.
O fracking, ou petróleo de xisto é a extracção de petróleo em grandes profundidades por injecção de água e químicos sobre a rocha de xisto, que, ao explodir, permite extrair o crude e o gás natural existente na sua composição, uma tecnologia relativamente nova que, para além de ser extremamente poluente, tem custos bastante mais elevados que a exploração offshore ou mesmo on shore tradicional, situando-se o breakeven acima dos 70 USD por barril, em média, quando a concorrente varia em torno dos 10 a 25 USD/barril, por norma.
Por causa desse valor elevado na produção, o fracking, cujos industriais, quase sempre pequenos investidores que recorrem ao crédito bancário para alimentar o seu negócio, está a assistir nas últimas semanas a uma pressão nunca vista e as falências sucedem-se porque o barril nos mercados internacionais em torno dos 33, no WTI nova-iorquino, ou 36, no Brent de Londres, está longe de garantir a sustentabilidade do investimento.
E, ironicamente, as perspectivas de melhorias nos valores do barril estão directamente ligadas, entre outras razões, à quebra brutal na produção do petróleo de xisto, o que retira alguns milhões de barris por dia aos mercados da oferta e pode, inclusivamente, levar os EUA a voltarem a ser compradores activos de crude no exterior.
Se as falências no xisto norte-americano continuarem, isso poderá atenuar os efeitos dramáticos da ameaça saudita de inundar o mercado de petróleo aumentando a sua produção para cima dos 12 milhões de barris por dia (mbpd), depois de a Rússia se ter recusado a alinhar na proposta de aumentar em 1,5 mbpd nos cortes à produção em vigor no âmbito do acordo estabelecido no início de 2017 pela OPEP e ouros 11 não-membros liderados por Moscovo, agregados todos na OPEP+, que já está a extrair 2,1 mbpd à produção normal.
Mas...
Isto, se, como recorda no site oilPrice Nick Cunningham, não se verificar a notícia divulgada pelo Energy Intelligence sobre planos em Riade para lidar com o barril de petróleo em torno à volta dos 10 a 20 USD por barril, ou mesmo abaixo de 10, por um período de tempo importante.
Mas se a ideia dos sauditas é pressionar os russos, Moscovo já ripostou e garantiu que aguenta os preços do barril a 25 USD por 10 anos, o que levaria forçosamente ao colapso da economia dos países mais dependentes das exportações de crude, como é o caso da Arábia Saudita, mas ainda mais de Angola ou da Nigéria, entre outros.
Recorde-se que na segunda-feira, por causa desta guerra Riade-Moscovo, o barril de Brent, em Londres, onde é definido o valor médio das exportações angolanas, caiu mais de 30 por cento na abertura, a mais densa queda desde 1991, aquando da I Guerra do Golfo.
Apesar de ter, entretanto, ocorrido uma muito ligeira correcção, o barril em Londres ainda está longe de voltar ao que era antes do anúncio do conflito de preços entre os dois gigantes da produção e da exportação de crude, e muito mais distante ainda do valor que tinha antes de rebentar a epidemia do novo coronavírus Covid-19, na China, e dos seus efeitos que se dispersaram por todo o mundo.
Porém, hoje, cerca das 09:40, o barril de Brent estava a valer 34,08 USD, menos 4,78% que no fecho de quarta-feira, verificando-se um sobe e desce ligeiro desde a hecatombe de segunda-feira, o que indicia que os mercados não estão seguros do que o futuro lhes reserva.
No entanto, sabe-se que tanto sauditas como russos ainda têm tempo para fazer marcha à ré nas suas mútuas declarações de guerra, porque o aumento da produção anunciado por Riade só terá efectivação a partir do fim do acordo em vigor, e no qual está incluída a Rússia, que ocorre no início de Abril.
E os especialistas admitem que, depois do sangue ter fervido nestes dias, tanto um lado como o outro vão arrefecer os ânimos porque ambos têm em ganhar em chegar a um acordo que permita manter o barril a preços razoáveis, que ronda os 60 a 70 USD por barril, como almeja, por exemplo, Angola.
Entretanto, esta nova queda registada hoje resulta da ordem do Presidente norte-americano de proibir todos os voos oriundos da Europa, seguindo-se à declaração da Organização Mundial de Saúde (OMS) de pandemia para o problema de saúde pública gerado pelo novo coronavírus Covid-19.
Com estes números, o barril acaba por atingir a meta dos 50% de perda a contar de 02 de Janeiro e mais de 30% desde segunda-feira, por casa da guerra Riade-Moscovo.
A decisão dos EUA sobre as ligações aéreas com a Europa vai afectar de forma severa as grandes transportadoras mundiais, desde logo as norte-americanas, embora a ordem exclua o Reino Unido, um dos mais concorridos destinos das empresas norte-americanas e onde estão confirmados mais de quatro centenas de casos e pelo menos oito mortos.