Se a brutal perda de valor nos mercados de segunda-feira - mais de 30% - tanto no Brent, de Londres, onde é determinado o valor médio das ramas exportadas por Angola, como no WTI de Nova Iorque, que rege o barril que alimenta a maior economia do mundo, os EUA, se deveu à declaração de "guerra" petrolífera da Arábia Saudita à Rússia, prometendo para as próximas semanas a inundação dos mercados com petróleo barato, hoje, a recuperação resulta da promessa de estímulos às economias mais relevantes no planeta e ainda do decrescente registo de casos da epidemia de coronavírus Covid-19 na China, onde tudo começou em Dezembro.
No arranque do dia em Londres, o barril subiu pouco mais de 8 %, para 37,1 USD, depois de no dia anterior ter chegado aos 31 dólares, enquanto no West Texas Intermediate (WTI), a subida foi de 7,9 %, para 33,59 USD, mais 2,46 USD que no fecho da sessão anterior.
Isto, depois de na segunda-feira, o Brent ter caído mais de 30%, atingindo o valor em queda recorde desde 1991, quando os EUA entraram na I Guerra do Golfo, e o preço mais baixo desde o início de 2016, quando, recorde-se, o barril em Londres chegou a descer abaixo da fasquia dos 29 USD, como epílogo da grave crise gerada em meados de 2014, quando a matéria-prima abandonou, em definitivo e em ritmo acelerado, a barreira dos 100 USD por barril.
Mas, hoje, com o avançar da manhã, pouco antes das 10:00, o Brent estava a valer 35,72 USD, mais 3,90% que na segunda-feira, o que denota uma quebra na percentagem da recuperação face ao início da sessão, igualmente muito longe do valor, por exemplo, usado pelo Executivo angolano como referência para a elaboração do Orçamento Geral do Estado (OGE 2020), que foi de 55 USD, e ainda mais do valor pré-epidemia por Covid-19, mais de 66 USD por barril no início de Dezembro.
Entretanto, o sentimento de pânico foi-se atenuando também nas bolsas mundiais, que estão hoje a recuperar depois de terem registado, igualmente na segunda-feira, quedas recorde, empurradas pelo trambolhão observado nos mercados petrolíferos.
Por detrás desta recuperação do fôlego, tanto do crude como das bolsas, estão as notícias oriundas da China, com um já significativo refluxo na epidemia, com cada vez menos casos anunciados diariamente, e ainda com a simbólica visita do Presidente chinês, Xi Jinping, à cidade de Wuhan, que foi o local "berço" do novo coronavírus.
A par disso, a puxar pelos mercados estão ainda os repetidos anúncios dos Governos das grandes economias globais, e dos seus bancos centrais, de que estão a preparar substanciais estímulos financeiros às suas economias, e ao sector petrolífero, sendo disso exemplo os EUA, onde o Presidente Trump já disse que vai avançar com apoios à indústria nacional, especialmente ao fracking - petróleo de xisto -, a mais atingida pelos preços baixos devido ao seu elevado breakeven, e onde se espera que milhares de pequenos produtores vão à falência.
Entretanto, recorde-se, a guerra aberta entre Riade e Moscovo surgiu depois de a Rússia se ter recusado a aceitar novos cortes na produção no seio da OPEP+, que junta os países exportadores cartelizados e 11 não-membros liderados pelos russos, tendo os sauditas informado que vão abrir a torneira - "pump at will" - e inundar os mercados, aumentando a produção até ao máximo, que são 12 milhões de barris por dia (mbpd).
Mas isso só sucederá em Abril, quando termina o acordo vigente no âmbito da OPEP+, que está a retirar, em termos globais, 2,1 mbpd, dos mercados para equilibrar os preços.
E, como é usual e sabido nos meandros do negócio global do petróleo, ainda "muito crude passará pelo oleoduto" até que a ameaça saudita se cumpra e à Rússia não faltará tempo para poder fazer marcha à ré na sua recusa de alinhar com os seus ainda actuais parceiros.
Até porque, como estão a sublinhar os especialistas mundiais ouvidos pelas agências e sites especializados, tanto a Arábia Saudita como a Rússia, são dois gigantes com pés de barro, porque ambos estão sedentos de dólares frescos - para aliviar as graves crises económicas em que se encontram -, que só conseguem em abundância através da venda do seu petróleo.
No que diz respeito a Angola, a questão em cima da mesa é uma eventual revisão do OGE 2020, para adequar o valor de referência do barril à nova realidade, mas o Governo já fez saber que, embora esteja a analisar a situação e os riscos inerentes, não vai, para já, avançar com essa opção de rever o documento reitor das suas contas.
Mas, se os valores permanecerem abaixo dos 55 USD de referência, levando a que o valor médio anual passe essa fasquia em baixa, essa opção será incontornável, como admitem alguns economistas e também já o admitiu o ministro dos Recursos Minerais e dos Petróleos, Diamantino Azevedo.