A China, o maior importador global, e a segunda maior economia mundial, tem um impacto substancial no negócio da energia e sempre que o gigante asiática espirra, os mercados constipam-se.
E nem o antidoto que costumam ser os dados positivos vindos dos Estados Unidos, a economia mais gulosa por crude, a maior do mundo e ainda o maior produtor do planeta petrolífero, onde os inventários mais recentes apontam para quebras acentuadas, estão a ajudar.
Alias, os EUA estão esta semana a perder em toda a linha no campeonato dos mais influentes no sobe e desde dos mercados do petróleo, porque estes insistem em dar quase toda a atenção aos números do crescimento global e à aparente fraqueza da China.
Ou seja, os mercados estão na fase jibóia depois de uma lauta refeição, estão a digerir, quetinhos, os dados da economia chinesa, o que significa que quando o "monstro" pára de se mexer, as suas entranhas arrefecem...
E ainda mais quando, como sucedeu nas últimas horas, o Banco Central da China voltou a cortar as taxas de juro, de 2,5% para 2,3%, o que é sempre visto como mais uma tentativa de inverter uma situação precária no país, ou seja, fraco crescimento económico, o que, sem excepção, conduz a menos importações de energia...
E é assim que o Brent, referência principal para as exportações angolanas, estava esta quinta-feira, 25, perto das 14:20, hora de Luanda, a valer 80,54 USD, menos 1,49 % que no fecho de ontem, ou seja, quase menos 2 USD.
Para as contas de Angola
... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, podem ser péssimas notícias, estas são claramente más notícias.
Mas, para já, ter o Brent nos 80 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.