Foi a 07 de Março que o barril de Brent tocou nos 140 dólares por causa da guerra entre a Rússia, um dos três maiores produtores de crude e de gás natural do mundo, e a Ucrânia que começou a 24 de Fevereiro com o avanço das colunas militares comandadas por Moscovo sobre o país vizinho, fazendo com que os mercados entrassem numa espiral de subida desenfreada que agora esbarrou na "parede" das conversações de paz.
E explicar o porquê de a guerra fazer subir o barril e a paz descer é simples. Os mercados estavam a agir com medo de que as sanções gigantescas aplicadas pela União Europeia, EUA, Japão e, entre outros , Austrália, à Rússia pudessem abranger as importações de gás e petróleo russos, o que obrigaria as maiores potências económicas ocidentais a ir procurar fontes alternativas para se abastecerem sem que estas existam, porque o mundo não produz actualmente crude em lado nenhum para colocar no lugar da oferta russa que chega aos 8 milhões de barris por dia (mbpd) nem o gás que fornece à Europa - mais de 40% - tem fonte alternativa no curto ou médio prazos.
Mas, com Kiev e Moscovo, cuja 4ª ronda negocial que começou na segunda-feira será retomada já hoje, terça, 15, depois de uma "interrupção técnica" aceite pelas duas partes, a lançarem para o espaço público através dos media a ideia de que querem, de facto, criar condições para acabar com o conflito, os mercados petrolíferos traduzem essa possibilidade por uma abertura real para que o crude e o gás russos continuem a chegar aos mercados "normalmente" e isso leva a que se afaste a possibilidade até aqui em cima da mesa de uma gigantesca disrupção no fornecimento.
A ajudar a este amaciar do ímpeto de subida nos mercados está a reacção das potências ocidentais onde apenas os Estados Unidos avançaram com a proibição de importação dos produtos energéticos russos, pela simples razão de se tratar de uma quantidade negligenciável pelos EUA, que importavam apenas 8% do petróleo consumido no país e praticamente nenhum gás, daquele país europeu.
Com o esticar e aproximar da linha de diálogo entre os Governos russo e ucraniano, o barril deu um trambolhão gigante tendo alcançado, perto do fecho de segunda-feira, máximos de descida de duas semanas, para os 100,24 USD, estando, já hoje, terça-feira, 15, a consolidar na casa dos 100 USD, 100,58 USD perto das 09:50, hora de Luanda, com um comportamento semelhante no WTI de Ova Iorque, chegado aos 97,07 USD à mesma hora, com ambas as referências a descer mais de 6%.
Porém, esta descida no valor da matéria-prima não resulta apenas de se caminhar a bom ritmo para um cessar-fogo na Ucrânia. A China, o maior consumidor do mundo de petróleo, está, de novo, com uma vaga de Covid-19 que levou Pequim a confinar mais de 17 milhões de pessoas na cidade de Shenzhen depois de um surto agressivo detectado.
Este novo confinamento de uma megaurbe na China vem no seguimento de um crescente aumento no número de casos no pais, o que leva alguns analistas a admitirem já que a segunda maior economia do mundo possa voltar a reduzir as suas importações de energia, o que afecta de imediato os mercados em baixa.
Com esta evidente perda de vigor nos mercados, Angola, que é um dos países que mais estava a beneficiar deste período de ganhos no sector, vê a vida a andar para trás porque, como se viu nos últimos dias nos media nacionais, o Governo de João Lourenço tem - ou tinha - uma última oportunidade para investir na diversificação da economia com o rendimento extra do petróleo e num tempo histórico em que o mundo caminha a passos largos para a transição energética, libertando-se dos combustíveis fósseis, como único caminho de se defender da catástrofe climática que se adivinha.
Angola tem, ainda, devido a atrasos por muitos considerados inexplicáveis no esforço de diversificação económica e libertação da dependência das exportações de crude, no sector 95% das suas exportações, mais de 35% do PIB e perto de 60% dos custos com o funcionamento diário do Estado.