Mas a meteorologia está a ajudar a mudar as folhas do calendário dos ganhos das economias aflitas, como a angolana, que, sem o guarda-chuva do crude, ainda teria mais dificuldades para resistir à crise, como se vê pelos constantes tropeções cambiais do Kwanza no Dólar e no Euro.

E é no Golfo do México que está o ganho, pelo menos 1,71% perto das 11:00, hora de Luanda, desta segunda-feira, 09, para os escassos 71,74 USD, que, ainda assim, acima dos 65 USD de preço médio definido pelo Governo no OGE paa 2024.

Uma tempestade tropical ameaça evoluir para furacão e as plataformas do Golfo, mexicanas e dos EUA estão a pensar em interromper a extracção por razões de segurança, o que leva os mercados a agir preventivamente, elevando assim o preço do barril...

Se isto é bom, do ponto de vista dos exportadores, também pode ser mau, porque se o "tempo" no Golfo do México não ajudar, durante o dia de hoje, ainda vão a tempo de corrigir de novo para baixo... e se o tombo levar o barril para baixo da fasquia psicológica dos 70 USD, muitas campainhas de alarme vão soar na rosa-dos-ventos do planeta petrolífero.

Estes ganhos ligeiros emergem de uma semana, a que passou, tempestuosa para o negócio desta matéria-prima de que o mundo se quer livrar por razões climáticas mas da qual não se consegue libertar por razões financeiras, tendo perdido 10% entre 01 e 06 de Setembro devido a um cisalhamento de "ventos" entre vendas apressadas e a realidade da economia global.

Como pano de fundo para este mau tempo no canal petrolífero do mundo, está ainda a contínua agitação da economia chinesa, que parece não querer chegar a bom porto, e a dos EUA, com dados assustadores recentes sobre desemprego, alimentando as altas pressões sobre os dois grandes sorvedoiros globais da matéria-prima.

A arrefecer ainda mais os ânimos, a OPEP+ acaba de anunciar que vai protelar o início da retoma da produção que estava prevista para Outubro, o que demonstra que o "cartel" sabe que estes não são tempos de bonança mas sim de tempestade no horizonte.

Para as contas de Angola

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário na meteorologia do crude não é augúrio de tempos fáceis.

Mas, para já, ter o Brent nos 71 USD, ainda ligeiramente acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, reduz substancialmente a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores travam o optimismo dos últimos meses e, por isso, aumentar a produção é ainda mais o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.