O dia que todos já sabiam que iria chegar, mas ninguém poderia apostar quando, chegou já na madrugada de Sábado para Domingo, gerando, então, outro tipo de ansiedade, que obrigou a reforçar nos ansiolíticos: como iria ser a reacção dos mercados nesta segunda-feira.

A maioria dos analistas apostava numa reacção tímida de ligeira subida após o Líder Supremo do Irão, aiatola Ali Khamenei, ter voltado a dizer que Teerão tinha agora o direito e o dever de "dar a resposta adequada", que é como quem diz, os iranianos vão também tomar os seus medicamentos para a tensão e não exacerbar na resposta, venha ela quando vier...

Os analistas enganaram-se, porque o que esta abertura de mercados de segunda-feira, 28, trouxe foi uma queda expressiva no valor do barril, caindo o Brent, que serve de referência maior para as ramas exportadas por Angola, quase 6%, de mais de 75 USD para a fasquia dos 71 e com tendência para piorar.

E se assim continuar, são os Governos dos países que mais dependem da matéria-prima que exportam que vão ter de abrir a caixinha dos ansiolíticos, porque se há uma coisa clara actualmente, é que o preço elevado do barril, entre os 75 e os 80 USD, tem sido garantido por riscos geoestratégicos provocados por conflitos, seja no Médio Oriente, seja na Ucrânia ou, esporadicamente, no norte de África...

Tal como se sabe, porque isso mesmo tem dito amiúde a Agência Internacional de Energia (AIE) que não há falta de crude no mundo, pelo contrário, a capacidade de fornecimento extravasa a procura.

E é apenas a política apertada de cortes na OPEP+, e os riscos de disrupção provocados pelos conflitos que não permitem uma hecatombe que muitos analistas admitem já ser inevitável mais cedo ou mais tarde.

A Reuters acrescenta esta manhã de segunda-feira mais um dado que pode gerar uma corrida ainda mais acelerada à prateleira dos medicamentos, que é a persistente e prolongada queda da procura na China, que acompanha o que se passa em quase todo o mundo, onde o petróleo começa a perder tracção para as energias verdes, como é já claro no gigante asiático.

Mas foi a resposta limitada de Israel que, para já, não foi além de uns misseis lançados de avião sobre aquartelamentos militares iranianos, que fez desfalecer os mercados, com uma queda abrupta de quase 76 USD no fecho de sexta-feira, 25 para os 71, 49 USD perto das 12:00, hora de Luanda, desta segunda-feira, 28.

Para as contas de Angola...

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, este cenário pode indiciar um futuro difícil.

Mas, para já, ter o Brent nos 71 USD, ainda assim acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, mantém a capacidade para diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista em Angola, embora o país enfrente também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores esboroam mas não aniquilam algum optimismo que pode ser ainda mais robusto se o país aumentar a produção, como procura fazer a todo o custo.

O que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.