No seu relatório mensal divulgado na segunda-feira, o "cartel" aponta para uma sólida recuperação da economia mundial e, com isso, justifica a revisão em alta, face ao último documento, de Agosto, da procura pela matéria-prima, vendo o consumo aumentar 4.15 mbpd e não apenas os 3.28 mbpd anteriormente divulgados.

Com isto, detalha o documento, um dos mais aguardados pelos mercados, muito porque a OPEP, que desde 2017 aposta numa sólida parceria com a Rússia e outros 10 produtores "não-alinhados", executando sucessivas manobras de corte na produção e outros tantos programas de retoma, face às leituras atempadas das sensibilidades dos mercados, a organização espera que o mundo observe em 2022 um forte incremento da actividade comercial, com a economia a florescer face ao sucesso das megacampanhas de vacinação contra a Covid-19 por todo o mundo.

Os mercados reagiram em alta a este documento, com o barril de Brent, a referência para as exportações nacionais, a subir acima dos 74 USD, para os 74,16 +0.86% que no fecho de segunda-feira, perto das 09:50 de Luanda, enquanto o WTI de Nova Iorque mostrava, à mesma hora, semelhante desempenho positivo, consolidando acima dos 70 USD, para os 70, 90 USD, +0.64% que na sessão anterior à hora de fecho.

Recorde-se que a OPEP+ mantém em curso um programa de retoma da produção na casa dos 400 mil barris por dia, mensalmente, tendo vindo a aumentar sucessivamente os números depois de em 2020, especialmente nos meses mais duros da pandemia, terem sido enxugados um gigantescos 10 milhões de barris por dia da produção global, que estava na casa dos 100 mbpd e chegou a bater nos 89 mbpd.

À medida que os índices de vacinação sobem, a pandemia vai diluir-se, sendo melhor gerida pelas economias e os seus efeitos deixarão de ter impacto sobre a economia mundial e também sobre o valor do petróleo, regressando este aos valores pré-pandémicos, pode ler-se no "report" da OPEP deste mês, que está em linha com as conclusões dos técnicos da OPEP+, cujo Comité Conjunto esteve a trabalhar em finais de Agosto, onde apontaram para um cenário semelhante ao que agora veio à luz do dia pela OPEP.

No entanto, segundo notam os sites especializados, este optimismo não é partilhado por todos os 13 membros da OPEP, tendo alguns sublinhado que a organização deve manter-se atenta de forma a verificar da eventual necessidade de ajustamentos ao programa de retoma da produção em curso, porque existe um risco de excesso de oferta se o aumento de 400 mil bpd mensalmente for prolongado para lá de 31 de Dezembro de 2021.

Recorde-se que a OPEP é responsável por cerca de 40% do total do petróleo produzido no mundo e perto de 60% das exportações de crude em todo o mundo, com estes números a subir de forma considerável se se acrescentar a produção dos países associados, como a Rússia, cuja extracção diária ronda os 10 mbpd, sendo, com a Arábia Saudita e os EUA, os três maiores, de longe, produtores planetários.

O que distingue estes três gigantes é que Rússia e Arábia Saudita são produtores e exportadores, os EUA, são insignificantes como exportadores porque a maior economia mundial consome largamente a sua produção interna de hidrocarbonetos.

Estes números agora disponibilizados pela OPEP são uma boa notícia para Angola, cuja crise económica se prolonga há vários anos num resultado directo da baixa de preço do barril a partir de 2014.

Sendo Angola um dos países na linha da frente das repercussões do sobe e desce dos mercados petrolíferos, devido à sua dependência das exportações de crude para o equilíbrio das suas contas - o petróleo ainda é responsável por mais de 94% das exportações e mais de 60 por cento dos gastos do Executivo e acima de 50% do PIB.

Angola e o futuro breve

Este cenário de recuperação permite algum optimismo nas contas nacionais mas ainda longe de um regresso ao patamar alcançado a partir de 2008, com o barril, como exemplo, a chegar aos 147 USD no Verão desse mesmo ano, permitindo um boom económico como nunca visto até ali.

A produção actual, em constante declínio, está abaixo dos 1,2 mbpd devido ao desinvestimento das "majors" a operar no offshore nacional, especialmente a partir de 2014, quando se verificou uma quebra abrupta do valor do barril, que passou de mais de 120 USD para menos de 30 dois anos depois, em 2016, bem como devido ao esgotamento/envelhecimento dos campos mais activos.

Apesar das mudanças substanciais na legislação referente ao sector e às alterações profundas nesta indústria decisiva para o País, a produção tem vindo a perder viço especialmente por causa da deterioração da infra-estrutura produtiva que desde 2014 viu os investimentos das "majors" descer, a fraca aposta na pesquisa por novas reservas e o envelhecimento de alguns dos mais importantes poços activos no offshore nacional.

Para já, com o barril acima dos 74 USD, o Executivo de João Lourenço conta com uma folga de mais de 34 USD em cima dos 39 USD que foi o valor usado como referência para a elaboração do OGE 2021, o que permite encarar com maior optimismo esta saída esperada da crise mundial, apesar dos fortes constrangimentos que a economia nacional enfrenta.

E, no âmbito do esforço do Governo para que o País não deixe de estar no radar dos investidores, aprovou em Conselho de Ministros um diploma de define regras e procedimentos para a atribuição de concessões petrolíferas em Regime de Oferta Permanente.

Isto vai permitir a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados e, segundo o comunicado deste CM, o documento legal permitirá permanentemente "a promoção e negociação de blocos licitados não adjudicados, de áreas livres em blocos concessionados e de concessões atribuídas à Concessionária Nacional, para potencializar e atrair investimentos nas actividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, mediante o procedimento de concurso público".