Esta possibilidade tinha sido proposta por um painel de especialistas da OPEP a quem foi pedida uma análise ao actual cenário - o barril de petróleo perdeu em menos de um mês 15 dólares - para voltar a equilibrar os preços e estancar a hemorragia que estava a ser observada no valor da matéria-prima.
Com um programa de cortes em vigor de 1,7 milhões de barris por dia, a OPEP+ acabou por encaixar a proposta dos especialistas, com a Rússia a aceitar essa proposta e a abrir o caminho para a sua implementação, sendo que 600 mil barris correspondem a cerca de 0,6% da produção global, onde a OPEP+ detém uma parcela de 40%, o que lhe permite influenciar de forma sólida os gráficos dos principais mercados petrolíferos mundiais, como o Brent, de Londres, onde se determina o valor médio das ramas exportadas por Angola.
O Brent, tal como o WTI de Nova Iorque, estão a sofrer brutais quedas desde o início do ano devido ao receio de que o coronavírus - recentemente nomeado Covid-19 pela Organização Mundial de Saúde - tenha um impacto abrangente na economia mundial a partir dos seus efeitos já visíveis na China.
A segunda maior economia do planeta e o maior importador de crude em todo o globo, por causa desta epidemia, que teve início na cidade de Wuhan, província central da China de Hubei, está oficialmente a registar uma quebra que se tem mantido em cerca de 20 por cento nas últimas semanas em comparação com igual período do ano passado.
E foi face a este receio que o painel técnico da OPEP - órgão sem capacidade de decisão, apenas de aconselhamento - entendeu que a única forma de estancar essa quebra no valor do barril é aumentar os cortes na produção de 1,7 milhões de barris por dia para 2,3 milhões de barris por dia.
Esta decisão, segundo explicam as agências, que citam o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Serguei Lavrov, numa conferência sobre energia na Cidade do México, foi assumida depois de o Presidente russo, Vladimir Putin, conversar por telefone com o rei da Arábia Saudita.
Porém, este acrescento de 600 mil barris por dia ao programa de cortes já em vigor carece de informação suplementar, porque a Arábia Saudita, desde há algum tempo, está a acrescentar um corte voluntário extra - fora dos acordos da OPEP+ - de 400 mil bpd, ficando por perceber se os 600 mil bpd vão somar aos actuais de facto 2,1 milhões, ou aos subscritos 1,7 mbpd.
Se a Arábia Saudita mantiver os 400 mil barris extra subtraídos à sua produção diária, então, já nas próximas semanas, os mercados poderão ver retirados de circulação 2,7 milhões de barris por dia, o que terá um impacto substancial nos mercados, podendo este variar em função do evoluir da pandemia de Covid-19, tanto na China como no resto do mundo. Actualmente estão confirmados mais de 1.115 mortos em cerca de 45 mil casos registados em todo o mundo, sendo que a esmagadora maioria está confinada à China continental.
A juntar a este cenário de reacção da OPEP+, organismo a que Angola pertence e onde tem especial interesse, nem que seja porque o preço do barril está há já vários dias - com um ligeira recuperação registada hoje - a ser vendido em Londres a menos que os 55 USD usados como referência pelo Governo para elaborar o OGE 2020, está o violento evoluir da, até aqui limitada, guerra civil na Líbia, onde a produção local - a Líbia detém as maiores reservas do continente africano, de longe - se tem mantido mais de 1 mbpd abaixo do seu potencial.
E o cenário naquele país do norte de África pode estar a evoluir de forma dramática para uma extensa e violenta guerra civil aberta e abrangente, com o exército do general rebelde Khalifa Haftar, do Exército Nacional da Líbia (LNA) a aproximar-se perigosamente de Tripoli, onde se resguarda o Governo reconhecido pela ONU do primeiro-ministro Fayez al-Sarraj, que lidwra um Governo de acordo nacional (GNA, siglas em inglês).
Por causa deste prolongado conflito, a produção líbia está a cair de forma significativa e, segundo as agências e sites especializados, pode mesmo chegar a parar por completo a produção por impossibilidade de fazer escoar a matéria-prima, bem como por causa de problemas com a refinaria nacional líbia.
Devido à pandemia de Covid-19, os problemas na Líbia estão a ser substancialmente ignorados pelos mercados, mas, com um possível acordo entre as partes em guerra, que pode ocorrer no âmbito das conversações lideradas pela ONU, que correm entre o Cairo, Egipto, e Genebra, na Suíça, este grande produtor africano pode, em breve, voltar à sua produção normal, injectando pelo menos mais 1,3 milhões de barris por dia nos mercados.
Se assim ocorrer, poderá anular uma boa parte dos cortes em perspectiva no seio da OPEP+ para evitar o colapso dos mercados e, segundo uma nota-análise do alemão Commerzbank, pode levar de novo o barril para debaixo da fasquia dos 50 USD em Londres.
Hoje, em Londres, o barril de Brent estava a valer, cerca das 14:45, 55,44 USD, mais 2,65% que no fecho de terça-feira, o que significa ainda um regresso à parte de cima do mínimo aceitável pela parte angolana devido à referência usada para o OGE do ano em curso.
A posição angolana, actualmente vice-presidente da OPEP, tem sido mantida sob alguma reserva, embora seja óbvio que quanto mais valer o barril melhor para as contas nacionais e, ainda por cima, numa altura em que a produção de crude está a observar um declínio que tende a resistir às contramedidas definidas pelo Executivo de João Lourenço, nomeadamente nos benefícios fiscais na produção, com o lançamento de novos concursos para o offshore de Benguela e Namibe, etc.
Recentemente, o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Azevedo, disse que Angola tem todo o interesse em manter-se na OPEP, mas isso só enquanto essa presença no seio do organismo não for prejudicial para os interesses angolanos e que não se opõe à política de cortes vigente na OPEP+.
E, na entrevista à TPA, na terça-feira, admitiu que os cortes em perspectiva no seio da OPEP+ fazem sentido e trata-se de uma "medida recomendável", mas lembrou que seja qual for a decisão, ela não vai afectar Angola porque a produção nacional actual está situada abaixo da quota acordada.
Essa realidade resulta do sucessivo declínio do potencial produtivo nacional, muito por causa do envelhecimento dos campos activos nos dias que correm, explicou DIamantino Azevedo.
Recorde-se que a Agência Internacional de Energia admitia em 2019 que Angola estará a produzir apenas 2,39 milhões de barris por dia em 2023, contra os actuais cerca de 1,4 mbpd actuais, muito longe dos 1,8 mbpd de 2008/9.