Para 2024 e 2025, estes oráculos, que na mitologia grega é o intermediário entre o mortal e a divindade que transmite o que está para acontecer, apontam para que o barril de Brent tenha um comportamento positivo, muito positivo, segundo a LP MOrgam e a Goldman Sachs, que prevêem que chegue aos 110 USD, ou, menos efusivo, o Deutsche Bank, que vê a medida chegar aos 88 até ao final deste ano.
Mas deve-se confiar? A resposta dos especialistas tem sido a mesma ao longo de décadas: Com os mercados petrolíferos, só há uma forma de não falhar, que é recorrer a um velho e conhecido adágio russo, "confiar, mas verificar",
Seja o que for que aconteça, isto são boas notícias para o Executivo de João Lourenço, que, prudencialmente, optou por elaborar o seu OGE 24 com base num preço médio em torno dos 65 USD, o que deixa um largo espaço de manobra para usar os excedentes para apagar fogos que ardem sem se ver, como é o impacto dos compromissos da dívida na disponibilidade de divisas no mercado cambial, directamente, mas indirectamente também na inflação...
Para já, ainda longe das previsões dos oráculos da alta finança, o barril de Brent estava esta manhã de quinta-feira, perto das 11:25, a valer 83,48 USD, mais 0,35% que na sessão anterior ao cair do pano.
E esta subida está directamente relacionada com três factores directos:
- a tensão no Médio Oriente, e os ataques incessantes dos Huthis do Iémen contra os navios que se atrevem a atravessar o Mar Vermelho de e para o Canal do Suez, por onde passam, em situações normais, perto de 15% do crude consumido diariamente em todo o mundo.
- a melhoria do Outlook para a economia chinesa, que parece estar a furar a película que a envolve deste a pandemia da Covid-19 e impede o gigante asiático de se expandir como habituou o mundo nas últimas décadas. E quando a economia da China, a segunda mais robusta do mundo, ganha fôlego, o petróleo ganha valor...
- e o mesmo sucede com os Estados Unidos, que é a maior economia mundial e o maior consumidor de crude, embora pouco importe por ser igualmente o maior produtor planetário das matéria prima. Isto, porque, avança a Reuters, crescem as expectativas de maior procura bem como a sua moeda, o Dólar, mostra estar a fraquejar. E quando o USD fraqueja, o crude custa menos a pagar aos outros países que ainda usam o dólar neste negócio.
Apesar estar, por restes dias, menos em evidência, a estratégia da OPEP+, a organização que agrega desde 2017 os Países Exportadores (OPEP) à Rússia e + nove desalinhados, com o objectivo de manter os preços em equilíbrio, que consiste em accionar o seu mecanismo de reacção rápida a mexer na produção quando o sector está sob ameaça, tem-se revelado fundamental para impedir os especuladores de meterem os mercados em alvoroço e com isso ganhar milhões a troco de nada.
Para Angola, as contas são simples de fazer...
Para Angola, apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 83 USD permite, embora não seja o antidoto definitivo, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.
Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.
O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.