Enquanto da Rússia, chega menos crude aos mercados, especialmente por causa do clima adverso no Mar Negro, os parceiros da OPEP preparam a última reunião do ano para o início de Dezembro, onde as recentes quedas no preço do barril, que em menos de mês e meio chegou aos 76 USD, não serão ignoradas.

Com estes impulsos, a que se junta um relatório do API nos EUA, que aponta para uma descida nos stocks da maior economia do mundo, o barril de Brent, que comprime ou expande o valor das ramas exportadas por Angola, está esta quarta-feira, 29 a valorizar 1,26%, para 82,71 USD, perto das 15:15, hora de Luanda.

Em cima da mesa dos analistas está, todavia, procurar antecipar o que vai fazer o "cartel", que vai reunir na próxima terça-feira, onde se adivinha a possibilidade de agir de forma a voltar a devolver o barril à casa dos 90 USD, seja na forma de cortes, seja na forma de compromisso de que vão agir se os mercados abanarem.

E uma das rajadas de vento que pode fazer os mercados abanar é o relatório que vai ser divulgado por estes dias da agência norte-americana que mede as quotas das suas reservas de energia, EIA, e que serve aos analistas como oráculo para o que vai ser o futuro breve quanto ao consumo de petróleo.

Como espectador atento a estes desenlaces estão os elementos da equipa económica do Presidente angolano, João Lourenço, porque a economia angolana é das que mais depende da montanha russa do valor do barril no mundo.

Com o petróleo a ser ainda responsável por cerca de 95% das exportações nacionais, mais de 35% do PIB e cerca de 60 por cento das receitas fiscais, qualquer abanão no sector tem um elevado impacto nas contas nacionais.

Para Angola, as contas são estas...

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 82 USD não permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

No entanto, com o OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de manter a produção nacional acima de 1,1 mbpd com os campos "Ndola Sul", "Agogo Fuel ou os projectos "Begónia", "Cameia" e "Golfinho", gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.