Primeiro, o executivo de Félix Tshisekedi, apertado pelas multinacionais que dependem do cobalto - mais de 60% deste mineral usado no mundo é proveniente das minas no leste da RDC - e do coltão - onde a situação é semelhante, provavelmente ainda mais dependente do subsolo congolês - está obrigado a fazer impor a lei no sector mineiro, quase todo artesanal e com mão-de-obra de milhares de crianças, o que tem estado a gerar indignação internacional devido às devastadoras condições de vida destas crianças.

Depois, as próprias multinacionais estão a exigir provas de que o mineral que adquirem, devido à pressão de dezenas de ONG"s e até de alguns governos europeus, é de origem "limpa", sem a intervenção de trabalho infantil.

E, face a este contexto, que faz da RDC uma geografia estratégica para uma boa parte da economia mundial, conferindo um poder enorme ao Governo de Tshisekedi, Kinshasa resolveu agir, aumentando de forma substancial a carga fiscal aplicada ao sector mineiro que envolve o coltão e o cobalto e ainda o germanium (germânio).

As especificações destes minerais colocam-nos entre os mais estratégicos em todo o mundo, o cobalto porque, essencialmente, é fulcral na produção de baterias de lítio para telemóveis e carros eléctricos, e o coltão porque sem ele, quase a totalidade dos sistemas electrónicos eram praticamente inúteis, tal como é importante o germânio para a indústria das câmeras térmicas e dos incontornáveis semicondutores.

Recorde-se que estes minerais estão, especialmente o coltão, entre as principais razões para que a RDC seja, há décadas, um território cobiçado, especialmente nas suas províncias do leste, Kivu Norte e Kivu Sul ou ainda Ituri, entre outras, e com as guerrilhas oriundas do Uganda e do Ruanda, a ADF e a FDLR, a controlarem extensas áreas do território com o fim de explorar o seu subsolo, como o NJOnline contou, e que não deve retroceder sem forte oposição porque o mercado dos smartphones e das baterias para os carros eléctricos vai continuar a crescer de forma robusta.

E este boom não passou ao lado do Governo de Tshisekedi, que tem no sector uma das principais fontes de receitas, a par dos diamantes e das madeiras, tendo há meses decretado que estes três minerais - coltão, cobalto e germânio - são "minério estratégico" do país, fazendo aumentar de forma substancial as contrapartidas financeiras da sua exploração, gerando, todavia, forte oposição das empresas mineiras que exploram legalmente estes recursos na RDC.

Isto, porque, segundo apontam analistas e estas empresas parecem concordar através de notas divulgadas em Kinshasa, com esta decisão, Félix Tshisekedi vai fomentar ainda mais a exploração ilegal do subsolo e afastar potenciais investidores para o sector mineiro.

Face a isso, outras organizações, nomeadamente as ONG que estão pode detrás das críticas e da acção contra as multinacionais tecnológicas, lembram que o facto de se tratar de minerais absolutamente incontornáveis para a sua indústria levará ao efeito oposto, aumentando o investimento.

Isso mesmo fica claro com a reacção imediata dos gigantes dos smartphones, como a Apple norte-americana e a sul-coreana Samsung, que asseguraram já por prazos prolongados o fornecimento de cobalto e coltão, não só através de novos investimentos, ou com o reforço dos existentes, mas também com a aplicação de garantias de que não vão adquirir a matéria-prima que não tenha garantias de ser proveniente de explorações legais e sem a contribuição de trabalho infantil, cumprindo rigorosos requisitos éticos.

Com estes movimentos, o Governo da RDC procura diminuir a até agora enorme maioria das receitas que são desviadas dos seus cofres através da exploração ilegal ou através da parca receita oriunda das taxas e impostos que eram aplicadas, tendo ainda em conta que o mundo da indústria tecnológica procura com clara ansiedade fontes alternativas para estes recursos minerais mas, até agora, tem sido difícil.

Porém, em alguns países, como o Canadá, ou na Europa, o cobalto tem sido encontrado em quantidades e reservas aproveitáveis embora longe de serem suficientes paara que a RDC deixe de ser incontornável.

Com o seu Plano Nacional de Geologia (Planageo), em criação há já alguns anos com a colaboração de laboratórios de Portugal e Espanha, Angola tem, no futuro uma palavra a dizer nesta matéria, porque, no seu seguimento, foram conhecidas reservas de cobalto mas também dos elementos que compõem o coltão, a columbita e a tantalita, o que faz com que este minério seja descrito em português também como columbita-tantalita.