Segundo os dados das organizações de defesa dos Direitos Humanos e civis quenianas, divulgados já nesta quinta-feira, 26, dos confrontos com a polícia resultaram 16 mortos, largas dezenas de feridos e pelo menos 400 detidos.
O ministro do Interior, Kipchumba Murkomen, tinha advertido para que os manifestantes não ousassem desafiar a polícia porque a contenção das forças de segurança estava literalmente dependente da necessidade de garantir a segurança pública. O resultado está à vista.
Pelo menos 16 mortos, largas dezenas de feridos e 400 detidos na jornada que pretendia ser uma homenagem às dezenas de vítimas mortais dos protestos de há um ano, quando centenas de milhares de pessoas protestaram contra as políticas sociais do Presidente William Ruto.
Segundo os relatos das agências, este dia de infâmia surgiu de uma jornada de luta que os organizadores anunciaram como pacífica e paa honrar aqueles que tombaram por esta altura, em 2024, sob as balas da extrema violência policial usada para conter os protestos.
Na altura, as centenas de milhares de manifestantes, na sua esmagadora maioria jovens, exigiam a anulação de um pacote legislativo que comprometia a vida dos mais pobres, com fortes aumentos de produtos básicos, além do combate ao desemprego, em níveis recorde.
Situação que se mantém no país, um dos que regista maiores protestos sociais impulsionados por um desemprego muito elevado, nomeadamente entre os jovens, e um custo de vida intolerável, segundo relatam as organizações socais quenianas.
Desta feita, quando as organizações civis tinham advertido para o risco de nova vaga de violência policial, e colocado equipas no terreno para vigiar a actuação das forças de segurança, foi de novo a acção policial a responsável pela maioria das mortes.
Isso mesmo confirma Amnistia Queniana, cujo responsável,, Irũngũ Houghton, citado por The Guardian, garantiu que a lista de mortes foi verificada pela comissão nacional de Direitos Humanos, criada pelo próprio Governo.
Além dos 16 mortos, nesta jornada de protestos, que contou com iniciativas por todo o país, devido ao facto de igualmente assim ter sido há um ano, com as 60 mortes confirmadas registadas em várias regiões quenianas, os organizadores confirmaram igualmente a existência de 83 feridos graves.
Os principais pontos de concentração dos manifestantes em Nairobi, a capital do país, fora as imediações do Parlamento, onde há um ano a polícia abriu fogo real abertamente contra os milhares de jovens que procuravam chegar ao edifício parlamentar onde estava a ser votado o pacote legislativa que enfureceu o país e gerou as manifestações. (ver links em baixo)
Esta situação, a repetição da mortandade às mãos das forças de segurança, levou a The Law Society of Kenya (LSK), uma das mais activas organizações de defesa dos direitos civis, a sublinhar o paradoxo vivido num país onde "pessoas estão a ser mortas por saírem à rua para honrar os mortos às mãos da mesma polícia".
Para evitar estas manifestações, que, claramente, como todos associam no Quénia, têm igualmente um significado político devido à persistente e severa crise social e económica e à incapacidade do Governo do Presidente Ruto lhe por cobro, a polícia procurou, através de barreiras nas estradas, manter os manifestantes fora do centro económico e financeiro da cidade.