As declarações foram feitas por Goodluck Jonathan ontem em Abuja, capital administrativa nigeriana, citado pela AFP, um dia depois de o grupo terrorista ter levado a cabo mais um ataque no Nor-deste.

O massacre vitimou pelo menos 310 pessoas na localidade de Gamboru Ngala, perto da fronteira com os Camarões, onde homens armados pertencentes à milícia degolaram civis e incendiaram edifícios com pessoas refugiadas neles.

A actuar naquela região da Nigéria desde 2009, a campanha de terror do Boko Haram ("a educação ocidental é pecaminosa", numa tradução livre do haúça, a língua mais falada na Nigéria) já vitimou pelo menos quatro mil pessoas em cinco anos e parece não dar tréguas.

No início desta semana, mais de 20 dias depois de as raparigas terem sido levadas da sua escola, o líder da milícia, Abubakar Shekau, clamou responsabilidade pelo sequestro num vídeo a que a AFP teve acesso. Nele, Shekau diz que as jovens não deviam estar na escola porque a sua função é "estarem casadas" e afirmou que pretende vendê-las no mercado de tráfico humano, tanto na Nigéria como nos vizinhos Camarões e Chade.

O vídeo surgiu uma semana depois de notícias darem conta de que algumas das adolescentes, com idades entre os 16 e os 18, já teriam sido forçadas a casar com captores do Boko Haram e que outras também já teriam sido vendidas, por cerca de oito euros cada, para serem escravas sexuais.

Perante umas primeiras semanas de inacção da parte do governo de Jonathan, os pais de muitas delas organizaram um protesto em frente ao parlamento, em Abuja, no final da semana passada, exigindo que as autoridades fizessem mais para encontrar as crianças, que continuam em paradeiro desconhecido, e trazê-las de volta em segurança.

Terá sido este protesto de milhares a atrair a curiosidade internacional que levou sociedades civis do mundo inteiro a lançar a campanha "Bring Back Our Girls", apadrinhada por ONG como a Amnistia Internacional e figuras como Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa que sobreviveu a um ataque dos talibãs por querer estudar, e a primeira-dama norte-americana, Michelle Obama.

Os governos dos Estados Unidos, de França, do Reino Unido e da China já estão a enviar equipas de especialistas em sequestros para ajudar nas operações de busca e resgate das 276 raparigas, o número oficial de jovens que continuam desaparecidas. Até ao fecho desta edição, essas missões mantiveram-se sem desenvolvimentos.

Apesar das garantias de "anonimato e confidencialidade" feitas pela polícia nigeriana, num comunicado em que ofereceu uma recompensa de cinco milhões de nairas (cerca de 220 mil euros) a quem fornecer informações que levem ao grupo sequestrado, as autoridades continuam sem conseguir descobri-las, bem como ao grupo de oito raparigas com idades entre os 12 e os 15, raptadas no domingo, após um massacre que vitimou pelo menos 150 pessoas numa outra aldeia do estado de Borno.

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