O recado não podia ter destinatário mais claro: os aliados europeus dos Estados Unidos que, pressionados fortemente por Washington para aumentarem os gastos com a Defesa para 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) , acabaram neste Cimeira por aceitar as "ordens" do Presidente norte-americano.

Isto, porque, depois de Donald Trump ter ameaçado, tanto agora como no primeiro mandato, abandonar a NATO se os europeus não gastassem mais com a Defesa, a solução encontrada na Europa foi dizer que "sim" ao "paizinho - daddy" como lhe chamou o secretário-geral da NATO, Mark Rutte..

Para os europeus é, porém, claro que elevar os gastos para 5% dos seus PIB's não é possível, mesmo que isso seja até 2035, porque seria obrigatoriamente necessário ir buscar o dinheiro à segurança social, à saúde e à educação, destruindo o modo e a qualidade de vida europeu.

E os governantes europeus começaram a procurar explicar aos seus povos que esse acréscimo de gastos será apenas uma ficção para contentar o "daddy" americano, porque na execução dessa despesa, o dinheiro será empregue na criação de empregos Europa e não nas armas Made in USA.

Uma manobra que foi acompanhada de um dos momentos de maior bajulação e humilhação perante um Presidente dos Estados Unidos, com o holandês que dirige a NATO, Mark Rutte, a tratar Donald Trump como um super-herói inigualável em destreza e inteligência quando é evidente que quase todos pensam o contrário.

Trump não gostou e foi ao púlpito, no final da Cimeira da NATO, dizer que estava a perceber a manobra europeia, avisando que é bom que os europeus não tentem enganar os norte-americanos, e que o dinheiro que vai ser alocado à Defesa no futuro, os tais 5%, que, por exemplo, num país pequeno e dos mais pobres na União Europeia, Portugal, seriam, aos valores de hoje, quase 10 mil milhões de euros., seja mesmo direccionado para os EUA.

Para isso, exigiu, num claro tom de aviso, que esse dinheiro seja gasto em armas fabricadas nos EUA e não em burocracias, ou, como estavam a tentar convencer os seus povos a generalidade dos líderes europeus, em estradas e pontes que têm de ser preparadas para aguentarem o peso dos equipamentos militares, como blindados e outra maquinaria.

E usou o exemplo de Espanha para mostrar como se poderá vingar dos "filhos" que não cumprirem a vontade do "daddy", garantindo, depois do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, ter dito que não aceitava as imposições de Trump, recusando aumentar a despesa na Defesa por não haver justificação para isso, que a sua vingança será pesada.

Isto, porque, ao que tudo indica, o Governo espanhol não engoliu, o único em 33 membros, a história contada pelo núcleo duro da NATO, as suas chefias militares e o seu secretário-geral, Mark Rutte, além de alguns países mais adeptos de uma guerra com a Rússia, de que está iminente uma invasão da Rússia à Europa Ocidental como justificação para o aumento da despesa militar.

E foi por isso que Donald Trump resolveu usar o púlpito da Cimeira para ameaçar Pedro Sanchez, garantindo que Madrid vai "pagar mais aos EUA" nos acordos comerciais que o que iria gastar se aceitasse aumentar a despesa na Defesa no contexto da NATO agora acordado em Haia.

A resposta do Governo espanhol está a ser dada pelos media do país, com fontes do Executivo de Sanchez a garantirem que em Madrid ninguém teme a fúria do "Sheriff" do mundo ocidental, porque a razão é de bom senso e sensatez ao recusar desviar dinheiro do sector social, a única forma de cumprir com as "ordens" de Trump, para o empregar em armas desnecessárias.

Até porque, com este aumento brutal das despesas com armas americanas na Europa Ocidental, além de levar a uma perda da qualidade de vida europeia, vai igualmente impactar os projectos de cooperação com o resto do mundo, incluindo África, podendo mesmo nalguns casos serem anulados na totalidade.

Outra imposição dos EUA nesta Cimeira da NATO foi, em conjunto com outros países, como a Hungria, a Eslováquia e a Turquia, manter o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, que já suspeitava de qualquer coisa, pela primeira vez nas últimas Cimeiras deste calibre, fora das reuniões de trabalho, aceitando apenas que estivesse no jantar de gala oferecido pelos Reis holandeses.

E isso levou ainda, contra aquilo que seria a vontade dos grandes da Europa, Alemanha, França e Reino Unido, a Ucrânia fosse apenas mencionada de forma vaga no comunicado final da 39ª Cimeira da NATO, com uma linha para dizer que a organização mantém o apoio a Kiev e à sua indústria militar, sem mencionar nem volumes nem formas.

Sobre o encontro que teve lugar, à margem da Cimeira, entre Trump e o Presidente Volodmyr Zelensky, o norte-americano apenas disse que "correu muito bem" porque "ele (Zelensky) é simpático", o que não retira nada à ideia transmitida pelo primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, que admitiu haver agora menos espaço para Kiev no contexto da NATO, o que é um resultado directo das mudanças na Casa Branca.

Igualmente notado no contexto desta Cimeira foram as palavras do Presidente francês, Emmanuel Macron, que, depois de anos a apontar Moscovo como o centro de todas as ameaças à Europa, ter mesmo defendido o envio de forças da NATO para a guerra na Ucrânia a combater os russos, defende agora que os países europeus devem preparar o terreno para voltar a falar com os russos.

Segundo os media russos, Macron afirmou que a Europa não pode manter-se num caminho de rearmanento sem prazo.

"Não vamos em direcção a uma escalada sem fim com a Rússia, com um conínuo rearmamento. Temos de o fazer hoje para equilibrar forças com Moscovo, e isso é uma ameaça" disse o Chefe de Estado francês, citado pela RT.

Acrescentando Macron que "ao mesmo tempo, é preciso pensar numa plataforma de segurança na Europa para o futuro, redefinindo a nossa arquitectura de segurança do Mar Negro ao Ártico (...) o que exige uma discussão com os russos de forma a torar isso possível, ao limitar as capacidades militares e reganhar a confiança mútua".

Isto, quando é claro que a Rússia, não apenas porque o Kremlin o repete sistematicamente, como os analistas militares o apontam, não tem nem terá no futuro visível, qualquer forma ou vontade de atacar os países da NATO, como se pode verificar na actual guerra na Ucrânia, onde, em três anos, apenas conseguiu anexar 20% do seu território.