O facto mais relevante das eleições legislativas portuguesas foi a vitória clara, mas longe da maioria absoluta, da Aliança Democrática (AD) liderada pelo PSD de Luís Montenegro, o que lhe permitirá manter a chefia do Governo de Lisboa, mas o dado mais mediático, olhando para a imprensa portuguesa, foi o extraordinário resultado do Chega, o partido da extrema direita.
Isto, porque André Ventura, que é a cara do Chega (22,6%) desde o seu início, há cerca de uma década, conseguiu os mesmos 58 deputados que o PS (23,4%) de Pedro Nuno Santos, que se demitiu de imediato perante tamanha humilhação, o que lhe permitirá forçar as suas políticas anti-imigração e alicerçadas na ideia de "limpar Portugal" da corrupção.
A AD, com 32,1% e 89 eleitos, não conseguiu uma maioria absoluta e nem com a junção dos nove deputados, correspondentes a 5,3%, pela Iniciativa Liberal (IL), o seu parceiro "natural", Montenegro poderá garantir uma governação à prova de tempestades, precisando que o PS ou o Chega deixem passar os seus Programa de Governo e Orçamentos anuais.
No rescaldo da noite eleitoral, Luís Montenegro foi lesto a dizer que vai formar Governo e vai governar sem sequer admitir que o PS, agora num turbilhão interno com a saída de Pedro Nuno Santos e a eleição para breve de um novo secretário-geral, se atreverá a fazer seja o que for para o "impedir de trabalhar", embora o líder do Chega já tenha avisado que nenhuma solução de Governo é possível sem que este seja ouvido.
Embora ainda faltem apurar os resultados dos círculos além-fronteiras, esta disposição dos vencedores e vencidos não sofrerá grandes oscilações, embora a esta hora, meio da manhã de segunda-feira, 19, ainda exista a possibilidade de após a contagem total dos votos, ou o PS, em cujas lista entou no Parlamento portuguesas a rapper luso-angolana Eva Rapdiva, ou o Chega se afirmem no segundo lugar.
Na parte debaixo da votação, o grande vencedor é o Livre, de Rui Tavares, que conseguiu passar de 4 para 6 deputados, enquanto a CDU, coligação liderada pelo Partido Comunista, perdeu um deputado, ficando com 3, enquanto o Bloco de Esquerda é o grande derrotado entre os pequenos, perdendo 4 dos 5 deputados conseguidos há pouco mais de um ano, ficando apenas com a ainda líder, Mariana Mortágua, no Parlamento.
Quanto ao ainda e futuro primeiro-ministro, Luís Montenegro, fica da noite eleitoral a sua declaração onde diz que "o povo quer este Governo e não quer outro. O povo quer este primeiro-ministro e não quer outro".
E acrescentou, numa clara advertência ao PS e ao Chega: "Espera-se sentido de Estado, sentido de responsabilidade, respeito pelas pessoas e espírito de convivência na diversidade mas também de convergência e salvaguarda do interesse nacional".
"Não me parece que haja outra solução de Governo que não aquela que dimana da vontade livre, democrática e convicta do povo português", avisou ainda Luís Montenegro, demonstrando que a sua governação emana da vontade popular e essa não pode ser questionada pelos menos votados.
E concluiu: "A moção de confiança que o povo endereçou ao Governo é suficiente para que todos assumam as respectivas responsabilidades".