A morte deste conhecido activista da linha mais conservadora, desde o uso e porte de armas, que justificava mesmo sob o risco dos repetidos massacres em locais públicos, da luta anti-aborto e contra quase todos os direitos das mulheres, está a gerar, pela primeira vez um coro ruidoso de políticos da direita norte-americana contra a "violência fácil com recurso a armas" no país.
Charlie Kirk, que também se destacava como crítico da ajuda dos EUA à Ucrânia, foi abatido quando falava para mais de três mil jovens da Universidade do Vale de Utah, ao final do dia de quarta-feira, quando um tiro disparado das redondezas o atingiu na zona do pescoço, tendo morrido pouco depois no hospital, segundo os media norte-americanos.
Mas o que se seguiu foi ainda mais extraordinário que o seu assassinato, porque esses, são comuns nos Estados Unidos, como o sabe bem o Presidente e seu amigo, Donald Trump, que foi alvo de pelo menos duas tentativas de homicídio, com as mais destacadas figuras conservadoras a sair em coro a lamentar a morte do "influencer" e pedir o fim da violência política nos EUA.
Uma dessas vozes foi o próprio Presidente Trump, que publicou na sua rede social Truth Social um pesado lamento pela morte do seu "querido amigo", garantindo que os responsáveis serão todos detidos, acusando implicitamente os "radicais da esquerda" de estarem por detrás deste "crime hediondo".
No vídeo onde aparece a falar deste episódio, Donald Trump promete lançar uma caça geral não apenas aos assassinos de Kirk, embora, até ao momento, passadas várias horas, a polícia ainda não tivesse detido o alegado autor do disparo, ou qualquer cúmplice, mas também a toda a "esquerda radical" responsável pela violência política no país.
Considerou o jovem "influencer" de 31 anos "um patriota" que morreu como "mártir pela liberdade e pela verdade", levando milhões de jovens americanos para o caminho da luz, sendo seguido por ser "o melhor da América".
"Um assassino tentou silenciar a sua voz com uma bala, mas falhoiu, porque, juntos, vamos garantir que a sua voz ecoará e a sua mensagem manter-se-á, bem como o seu legado, que viverá pelas gerações vindouras", disse Trump.
Num claro aproveitamento da situação, Donald Trump ligou o seu assassinato à "retórica esquerdista" avisando que a "violência e o homicídio são as consequências trágicas da demonização daqueles de quem discordamos dia após dia, ano após ano".
Recorde-se que Charlie Kirk ficou mundialmente famoso por ter saído em defesa do direito constitucional do uso e porte de armas em diversas ocasiões em que estas foram usadas para matar dezenas de pessoas em vários tiroteios, e ainda porque a sua organização, "Turning Point" foi uma das que esteve na linha da frente da defesa da invasão do Congresso em 2021, após a derrota de Trump nas eleições...
A generalidade dos líderes republicanos no Congresso bem como os membros da Administração Trump ou ainda os líderes conservadores locais e regionais, e ainda das muitas igrejas evangélicas, saíram a terreiro anunciado preces por Charlie Kirk, apelando a que sejam detidos todos os envolvidos no seu assassinato.
Isso mesmo foi ouvido pelas diversas polícias norte-americanas e o FBI anunciou ter em curso uma gigantesca operação de busca pelo autor do disparo e os seus cúmplices, alegadamente porque ninguém acredita que tenha agido sozinho.
Também fora do círculo conservador se fizeram ouvir vozes críticas da violência deste tipo, como a do ex-Presidente Barack Obama, que publicou no X a informação de que está a acompanhar este assunto, sublinhando que "ainda não se conhecem as motivações" mas apontando como "hedionda violência" a morte de Kirk que "não pode ter lugar na democracia dos EUA".
E no estrangeiro também, especialmente dos líderes conservadores de direita, desde o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyhau, que tinha em Charlie Kirk um defensor das suas políticas genocidas, à primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, todos apontando como uma "enorme perda" a morte daquele que era uma voz "motivadora" entre a juventude mais radicalizada, especialmente no tecido religioso evangélico e rural.
Esta é claramente a primeira vez que se ouve nos EUA um tão denso e sincronizado coro de vozes conservadoras criticando a violência política, embora o tema do uso e porte de armas tão querido a Charlie Kirk, que deixa mulher e dois filhos, se mantenha fora da agenda, apesar de quase em simultâneo tenham sido vagamente noticiados pelo menos dois tiroteios fatais nos EUA...
Parece que para os líderes do Partido Republicano, desde logo o Presidente Donald Trump, assume-se que honrar Kirk é repetir o seu comportamento sempre que um tiroteio tirava a vida a inocentes nas escolas, ruas e igrejas dos EUA: "Eu entendo que o custo, infelizmente, de algumas mortes pelo uso de armas de fogo, vale a pena de forma a proteger os direitos concedidos por Deus" referindo-se à 2ª Emenda da Constituição dos EUA.
Esta 2ª Emenda, aprovada em 1791, protege "o direito do povo de manter e usar armas" e que esse direito não deve ser violado, sendo que nessa altura, em finais do século XVIII, a questão das armas não tinha o actual contexto, a sua posse era muito limitada e não existia nos EUA forças policiais em todas as comunidades para garantir a segurança dos cidadãos.
Razão pela qual essa mesma Emenda sublinhava que "uma milícia organizada é necessária para a segurança de um Estado livre". Charlie Kirk não via diferença entre essa época e os dias de hoje no que toca ao uso e porte de armas.
A média de tiroteios em massa nos EUA dos últimos anos é superior a 400, sendo que este é o país com mais tiroteios em massa em todo o mundo, morrendo em média anual 48 mil pessoas, mais de 120 por dia...