A cerimónia da posse de Horta N'ta (na foto) como Presidente de transição teve lugar esta tarde de quinta-feira, 27, 24 horas depois do golpe de Estado, no edifício do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, na capital do país.

Segundo se pode ler em alguns canais semi-oficiais nas redes sociais por pertencerem a elementos ligados ao processo de transição, o cargo vai ser mantido, para já, por um ano, deixando assim Horta N'ta a chefia do Estado-Maior do Exército.

O agora deposto Presidente continua sob detenção da tropa mas com aparente liberdade de movimentos, com capacidade para se manter em contacto com o exterior, como se podia verificar através do uso das suas redes sociais.

E ficou-se ainda a saber esta tarde que o candidato apoiado pelo PAIGC mas com a condição de independente, Fernando Dias, que reivindicava, antes da intervenção militar (ver links em baixo), e fora dado como detido, está, afinal, em liberdade, tendo o próprio informado que não foi preso por muito pouco.

Apesar da acelerada alteração de circunstâncias, com os autores do golpe a procurarem normalizar as instuituições o mais depressa possível, permanece por saber com certeza o que de facto esteve por detrás dele, mas a possibilidade de uma encenação do agora deposto Presidente Sissoco Embaló para interromper a contagem dos votos das eleições de Domingo que lhe estava a ser torrencialmente desfavorável é ainda uma das mais consideradas pelos analistas locais.

Por outro lado, a versão oficial dos golpistas no sentido de estarem a proteger o país da tomada do poder por elementos ligados ao tráfico internacional de droga é relativizada pela generalidades das organizações cívivas e da oposição.

Entretanto, com a tomada de posse do Presidente de transição, o Alto Comando informou que o espaço aéreo guineense estava de novo aberto e que as companhias aéreas que chegam semanalmente ao aeroporto de Bissau, e que estavam temporariamente impedidas, podem voltar a voar para a capital guineense.

Soube-se ainda que a polícia está a apoiar os militares neste golpe e está na rua a impedir concentrações, especialmente de algumas centenas de jovens que pretendiam manifestar-se contra o actual cenário junto do Ministério do Interior.

A polícia interveio com violência e usou granadas de gás lacrimogéneo e balas de borracha para dispersar os jovens, havendo indicções de alguns feridos, mas sem gravidade.

Segundo informações de Bissau, com a informação de que Fernando Dias está, afinal, em liberdade, embora em parte incerta, estão neste momento apenas detidos o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, e mais dois elementos, incluindo Octávio Lopes, um conhecido advogado de Bissau.

Apesar de um lento regresso à normalidade, a capital guineense estava esta tarde de quinta-feira, segundo fontes contactadas pelo Novo Jornal, sem o frenesim quotidiano, com muitas lojas fechadas, as escolas ainda encerradas e os meios de comunicação social com emissão contida e limitada ou encerrados também, especialmente as rádios.

Este golpe militar está a ser fortemente criticado pelas organizações internacionais, como a Comunidade de Estados da África Ocidental (CEDEAO), a própria União Africana ou ainda ONU, mas pelo tom das declarações trata-se de uma tomada de posição para cumprir obrigação.

Porque estas entidades estão conscientes do que aconteceu depois de terem assumido posições mais agressivas nos casos semelhantes do Mali, Burquina Faso e Níger, com estes países a inclinarem-se claramente para a esfera de influência da Rússia e da China.